Pesquisa: brasileiro prioriza mais luta contra pobreza do que combate à corrupção – Metrópoles
01/01/2023 2:05, atualizado 01/01/2023 11:04
O combate à pobreza e desigualdade é o tema com o qual os brasileiros mais se identificam atualmente. Na hierarquia das questões que têm mais relevância para a população, ele fica acima – e com ampla vantagem – de assuntos como a luta contra a corrupção, o estímulo a valores morais e religiosos e, por fim, ao apoio a princípios liberais como o livre mercado e a livre iniciativa.
É isso o que mostra uma pesquisa realizada pelo Instituto Travessia, de São Paulo, com exclusividade para o Metrópoles. O levantamento foi feito entre os dias 14 e 15 de dezembro, por meio de cerca de mil entrevistas por telefone, com pessoas com idades a partir de 16 anos, espalhadas por todo o país.
Às pessoas que participaram da sondagem, foram apresentados quatro temas. Do total, 55% disseram que se identificavam mais com a luta contra a pobreza e desigualdade. O combate à corrupção obteve menos da metade desses votos, amealhando 25% das opiniões. Num patamar bastante inferior, vieram o fomento a questões morais e religiosos, com 9%, e o apoio a valores liberais, com 4% (veja quadro abaixo).
A ordem dessa escolha, porém, mudou em 2022. Em outra pesquisa realizada pelo mesmo instituto, no fim de 2021, o combate à corrupção havia conquistado o primeiro lugar (35%), à frente do cultivo a valores morais e religiosos (27%), em segundo, e do combate à pobreza e desigualdade (26%), que não passou do terceiro posto naquela ocasião. Os temas liberais receberam 12% dos votos e ficaram na última colocação nas duas sondagens.
Renato Dorgan Filho, sócio e analista do Travessia, considera que os dois resultados refletem momentos distintos da vida nacional. “Hoje, e desde o início do processo eleitoral, a discussão sobre a pobreza e a desigualdade repercutiu muito no país, o que também ganhou evidência com a eleição de Lula, que tomou o tema como um dos pilares de sua campanha”, afirma. “Em 2021, por outro lado, as bandeiras do bolsonarismo tinham maior visibilidade e adesão, com os discursos contra a corrupção e respeito de temas morais.”
É por isso, acrescenta o analista, que as respostas a essa pergunta na última pesquisa espelham a polarização político-eleitoral ainda vigente no país. “A parcela da população que optou pelo combate à pobreza e desigualdade tem o perfil dos eleitores do presidente eleito”, nota. “O oposto também vale para quem escolheu o tema corrupção, um grupo mais próximo de Jair Bolsonaro.”
Pois é isso o que mostra a segmentação por renda, região e gênero dos participantes do levantamento. Entre os que optaram pelo tema pobreza-desigualdade, a maior parte vive no Nordeste (53%), região que votou maciçamente no presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), é formada por mulheres (63% contra 47% dos homens) e tem renda mais baixa, com até dois salários mínimos por mês.
Dos que se identificaram com o tema corrupção, 32% vivem na região Sul, que apoiou Bolsonaro em peso, 30% são homens (ante 21% de mulheres) e 38% têm renda superior a cinco mínimos mensais, a maior faixa de acordo com a segmentação da pesquisa (contra 22% nas camadas mais pobres).
Dorgan Filho pondera que a opção pelos dois principais temas, pobreza-desigualdade e corrupção, não traça um limite intransponível entre os perfis dos eleitores dos dois principais nomes que disputaram a Presidência. “Esses são assuntos que preocupam e mobilizam pessoas dos dois lados dessa linha divisória, principalmente as que optaram pelo voto útil num dos dois candidatos”, afirma. “Ainda assim, a concentração num ou noutro território da polarização ainda é muito grande.”
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