Petistas ignoram Lula, cogitam reeleição em 2026 e incomodam aliados – UOL
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Nos primeiros dias de mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 77, petistas já começam a discutir a hipótese da reeleição do presidente em 2026, algo rechaçado pelo próprio mandatário ao longo da campanha eleitoral.
Alguns integrantes do PT passaram a defender publicamente a ideia. Por outro lado, o movimento foi visto por outros correligionários e aliados de outros partidos como uma antecipação indevida da próxima disputa eleitoral, o que poderia atrapalhar o próprio governo.
Parte dos aliados ouvidos pela Folha diz reservadamente que isso não está em discussão no PT. Lula despachou do Palácio do Planalto pela primeira vez na noite de terça-feira (3).
A discussão sobre a reeleição ganhou corpo a partir de uma declaração, na segunda-feira (2), do ministro da Casa Civil, Rui Costa, no programa Roda Viva, da TV Cultura.
“Lula falou [que não concorrerá] de coração considerando a sua trajetória e a volta dele para consolidar a democracia. Mas, se tudo der certo, e com fé em Deus dará, faremos um governo exitoso. E se ele continuar, como ele próprio diz, com energia e o tesão de 20 anos, quem sabe ele pode fazer um novo mandato presidencial”, afirmou o ministro.
O secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto, foi além e disse, categoricamente, que Lula “vai ser [candidato]”. “Conhecendo o Lula, ele não vai abrir mão da sua reeleição. Eu acho isso.”
Integrantes do partido concordam reservadamente que o petista pode disputar a reeleição —se estiver em boa condição de saúde, visto que terá mais de 80 anos em 2026, e se estiver com boa avaliação.
Um interlocutor de Lula usou o ex-presidente e adversário Jair Bolsonaro (PL) como exemplo para justificar uma eventual tentativa de reeleição do petista.
Bolsonaro disse, durante toda sua campanha em 2018, que não tentaria um novo mandato e trabalharia pelo fim da reeleição.
Contudo ele passou a defender que quatro anos eram insuficientes e se candidatou para a reeleição no ano passado. Foi derrotado, tornando-se o único presidente a não conseguir renovar o mandato.
Uma tentativa de reeleição de Lula contrariaria declarações do próprio presidente, que descartou a possibilidade durante a corrida eleitoral.
“Eu se eleito serei um presidente de um mandato só. Os líderes se fazem trabalhando, no seu compromisso com a população”, escreveu Lula nas redes sociais, em outubro.
Uma ala do PT e integrantes do primeiro escalão do governo consideraram a discussão inoportuna. Afirmam que este não é o momento e que pode acabar prejudicando o próprio governo recém-inaugurado, que ainda tenta ampliar sua base no Congresso.
Citam que o país está dividido e que essa discussão poderia acirrar os ânimos. O petista foi eleito em 30 de novembro, no segundo turno, com 50,9% dos votos válidos, contra 49,1% de Bolsonaro —uma diferença de 2,1 milhões de votos.
Na avaliação desse grupo, trazer para o debate público a possibilidade de reeleição de Lula iria contra a imagem de frente ampla que o petista tentou projetar na sua campanha.
O deputado federal José Guimarães (PT-CE) afirmou à Folha que “não é hora de discutir 2026”. “É hora de botar governo para funcionar, de discutir as demandas da sociedade”.
Integrantes do PT e aliados de Lula também afirmaram reservadamente que o tema não está em discussão no partido e até criticaram a declaração de Rui Costa.
Um interlocutor disse que o assunto está fora do momento e que há uma longa estrada até 2026.
O debate sobre uma eventual reeleição de Lula causa incômodo com aliados, uma vez que ele foi eleito com uma frente ampla e construiu alianças sob perspectiva de passar o bastão adiante.
Há ao menos dois integrantes do primeiro escalão fora do PT que pleiteiam o espólio do petista: Simone Tebet (Planejamento) e o vice Geraldo Alckmin (Indústria e Comércio). Além deles, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que disputou as eleições presidenciais em 2018, é outro nome dado como possível sucessor de Lula.
Esses personagens do primeiro escalão do governo evitam entrar na polêmica da reeleição e adotam silêncio sobre as recentes declarações de Rui Costa.
Aliados de Simone Tebet disseram que a senadora minimizou a questão, por não se considerar atingida por essa possibilidade.
Publicamente, a emedebista tem adotado um discurso de que atuou na campanha de Lula e agora está no governo para “contribuir” —e não para atingir planos eleitorais futuros.
A ex-senadora concorreu à Presidência no primeiro turno deste ano, tentando se contrapor a Lula e a Bolsonaro. Ela adotou uma oposição mais dura contra Bolsonaro. Ela ganhou notoriedade durante a CPI da Covid no Senado, com críticas à gestão do ex-ministro Eduardo Pazuello.
Tebet terminou o primeiro turno com quase 5 milhões de votos e embarcou na frente ampla da campanha do petista na segunda etapa. Trabalhou no gabinete de transição e ficou com o Ministério do Planejamento. A emedebistas é apontada como uma das apostas na sucessão do petista.
Alckmin, por sua vez, era adversário eleitoral de Lula. Tendo sido inclusive derrotado por ele em disputa pelo Palácio do Planalto em 2006. Já em 2018, o então tucano ficou de fora do segundo turno, que foi disputado por Bolsonaro e Haddad.
O ex-governador de São Paulo se aproximou de Lula neste ano e se filiou ao PSB para integrar a chapa do petista.
Lula indicou em diferentes momentos ao longo da campanha eleitoral de 2022 a decisão de que, se eleito, não concorreria à reeleição.
O petista argumentou na campanha que terá 81 anos na próxima corrida presidencial (ele tem hoje 77) e que sua intenção é fazer um governo de transição, que abra espaço para “ter gente nova disputando eleições”. Ele afirmou ainda que trabalhará para criar novos líderes para competirem.
Lula falou em público sobre o assunto pela primeira vez em julho e depois voltou ao tema em entrevistas e atividades da campanha, em um aceno ao centro e em busca de governabilidade.
O petista também indicou que não concorreria à reeleição em evento com intelectuais, fundadores do PSDB e ministros do governo Fernando Henrique Cardoso, às vésperas do primeiro turno das eleições.
“Uma coisa que eu tenho dito e que politicamente não é prudente dizer, mas todo mundo sabe que eu tenho quatro anos para fazer isso. Todo mundo sabe que eu tenho quatro anos. Todo mundo sabe que não é possível um cidadão com 81 anos querer a reeleição. Todo mundo sabe. Se ninguém quer saber, a natureza é implacável, ela diz”, afirmou ele naquele momento.
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