PL de Bolsonaro usa 'falácia do atirador' em ação golpista contra Lula – UOL Confere

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em países como Timor Leste e Angola e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). Diretor da ONG Repórter Brasil, foi conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão (2014-2020) e comissário da Liechtenstein Initiative – Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos (2018-2019). É autor de “Pequenos Contos Para Começar o Dia” (2012), “O que Aprendi Sendo Xingado na Internet” (2016), ?Escravidão Contemporânea? (2020), entre outros livros.
Colunista do UOL
22/11/2022 17h49
Após se debruçar sobre os resultados das eleições, o PL de Valdemar da Costa Neto descobriu uma coincidência: se consideradas apenas as urnas fabricadas após 2020, Bolsonaro teria sido eleito. E usando uma mentira lastreada em “especialistas” por eles contratados, de que os equipamentos mais antigos não são auditáveis, pediu a anulação de 59% das urnas do segundo turno nesta terça (22).
Nos Estados Unidos, isso é chamado de “Texas Sharpshooter Fallacy” ou Falácia do Atirador de Elite do Texas. Não, eu não inventei o termo. Se duvidam, procurem no Google.

Ela aparece quando apelamos para uma ilusão de agrupamento, usando a tendência humana de ver padrões onde eles não existem. Que, aliás, se aproveita de outra tendência humana: a de que as pessoas creem que é verdade tudo aquilo que vai ao encontro do que elas já acreditavam previamente.
O nome da falácia vem de uma piada sobre um texano que disparou tiros na lateral de um celeiro, depois pintou um alvo centrado no lugar onde a maioria das balas acertou e mostrou aos amigos afirmando ser um atirador de elite.
Nessa falácia, as semelhanças são superestimadas e as diferenças, ignoradas, para chegar a uma falsa conclusão. O partido do presidente da República diz que confiáveis apenas as urnas do conjunto que daria 51% dos votos a Bolsonaro e 49% a Lula. Pouco importa, na opinião do partido, a falta de evidências apontando fraude nas urnas. Muito menos a informação de que, apesar de urnas poderem ter o mesmo número de registro, cada arquivo produzido por elas é único na contabilidade do TSE. E se a Justiça Eleitoral sabe dizer de onde vieram tais dados, eles são sim auditáveis.
Poderia ser uma outra coincidência? Claro! Se olharmos os dados com o mesmo olhar safado do PL, seríamos capazes de encontrar outro padrão aleatório em que Lula se saiu melhor e exigir a anulação dessas urnas sob alguma justificativa tão esdrúxula quanto. Mas o PL achou que essa estava de bom tamanho. Não para a maioria do Poder Judiciário e do Poder Legislativo, e sim para fortalecer a narrativa golpista do bolsonarismo.
Logo após o PL pedir a anulação das urnas no segundo turno usando a tal falácia do atirador texano, o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foi rápido no gatilho e emitiu um despacho dizendo que o pedido deve conter também a anulação dos votos nos dois turnos, ou ele será desconsiderado.
O problema é que as urnas deram ao PL, no primeiro turno, a maior bancada na Câmara dos Deputados na próxima legislatura, com 99 parlamentares. E o poder político e o montante bilionário do fundo partidário e do fundo eleitoral decorrentes dessa liderança são coisas que o presidente do partido, Valdemar da Costa Neto, não quer abrir mão.
“As urnas eletrônicas apontadas na petição inicial foram utilizadas tanto no primeiro turno, quanto no segundo turno das eleições de 2022. Assim, sob pena de indeferimento da inicial, deve a autora aditar a petição inicial para que o pedido abranja ambos os turnos das eleições, no prazo de 24 horas. Publique-se com urgência”, afirmou Moraes.
A ação do PL não deve dar em nada no âmbito do TSE porque, como já foi dito, não há indícios de fraude. Contudo, já está abastecendo os protestos golpistas que acampam em torno de quartéis e chegando aos militares bolsonaristas que trabalham nos quartéis.
Em um dos áudios que estão circulando em grupos de WhatsApp, um golpista diz que o pedido do PL prova que o bolsonarismo está fazendo tudo dentro da Constituição. Diz que se isso não for acatado, “já era”, o Exército vai agir, porque a Justiça desrespeitou as “quatro linhas”.
E defendendo resistência para os outros golpistas, afirma: “Eles estão fazendo tudo certinho, dentro do cronograma. O circo está apertando, não adianta. Tá fechando, a gente tem que se manter”.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
Leonardo Sakamoto
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