Política antiambiental de Bolsonaro atraiu parte do agro para atos … – O Eco

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Jornalismo Ambiental
Em entrevista à Veja, ministro da Agricultura e Pecuária afirmou que apenas 5% dos produtores atuam na ilegalidade e citou a Aprosoja como exemplo de má conduta no setor
Ministro da Agricultura Carlos Fávaro. Foto: Senado Federal

Se as relações entre o setor do agronegócio e a pauta ambiental já representavam um entrave para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que já chegou a se explicar por afirmar que existia um grupo fascista e afeito aos desmandos ambientais atuando no setor, após atos terroristas ocorridos em Brasília no último domingo (08), cresceu a disputa entre a nova governança ambiental prometida por Lula e os interesses de uma parcela dos grandes produtores rurais. 
No centro deste debate está o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Carlos Fávaro. Em entrevista publicada nesta sexta-feira pela revista Veja, Carlos Fávaro, senador licenciado pelo PSD-MT, representante do agronegócio e empresário no ramo de sementes e produtor de soja mato-grossense, assumiu que desde as eleições a polarização gerou uma massa bolsonarista no setor, segundo ele, uma minoria raivosa. 
“Lamentavelmente acho que é verdade [sobre a participação de representantes do agronegócio nos atos terroristas]. Fazem parte daqueles poucos, mas muito raivosos, que não fazem bem ao agronegócio. Aqueles que desmatam e tocam fogo ilegalmente são os mesmos que agora atentam contra nossa democracia. Eles precisam ser punidos rigorosamente para o bem do agronegócio e do Brasil”, afirmou.
Essa polarização, segundo explica o ministro, precisa começar a ser sanada a partir da aceitação do resultado das eleições presidenciais e da conscientização da necessidade da consolidação de um agro ambientalmente sustentável no Brasil. “Minha missão é reconstruir essa ponte junto com o presidente Lula, com a ministra Marina Silva e todos os outros ministérios”, contemporiza o ministro.
As declarações de Fávaro se assemelham às do presidente Lula. Na sexta-feira (6), antes das invasões, durante a abertura da primeira reunião ministerial do novo governo, o presidente já estabelecia uma clara distinção entre os representantes do agronegócio que receberão um bom tratamento por parte de seu corpo ministerial e aqueles que serão punidos, caso sigam infringindo leis ambientais. 
“Esse empresário que produz de forma responsável será por nós muito respeitado e muito bem tratado. Agora aqueles que quiserem teimar em continuar desrespeitando a lei, invadindo o que não pode ser invadido, usando agrotóxico que não pode ser usado, este a força da lei imperará sobre ele. Nós vamos exigir  que a lei seja cumprida porque neste país, tudo vale – a única coisa que não vale é o cidadão bandido achar que pode desrespeitar a boa vontade da sociedade brasileira, a nossa Constituição e a nossa legislação ”, sentenciou o presidente.
Fávaro citou de forma explícita como exemplo do agro antidemocrático a Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja), entidade que ele próprio já foi presidente em sua principal representação regional, no estado do Mato Grosso, entre 2012 e 2014. 
Sem citar nomes, Fávaro apontou a atual diretoria da Associação como responsável por incitar os produtores e contribuir para que esses perdessem o senso de compromisso com a democracia. 
“Membros da Aprosoja participaram, sim, de atos antidemocráticos. Um delegado da entidade foi preso ateando fogo em caminhão, em uma praça de pedágio. Não estou trabalhando com hipóteses, são fatos reais”, contou o ministro.
Segundo apurado por ((o))eco, uma publicação incitando a participação em atos com a finalidade de realizar uma “tomada do poder” no dia das invasões em Brasília foi divulgada na página de Facebook do Movimento Brasil Verde e Amarelo, que reúne mais de 300 produtores e tem viés explicitamente conservador e bolsonarista. 
O principal líder do movimento é Antônio Galvan, presidente da Aprosoja Brasil e principal articulador do tratoraço que levou centenas de ruralistas para um desfile de tratores nas comemorações oficiais da Independência do Brasil, no dia 7 de Setembro, em Brasília, durante o período de campanha eleitoral. 
A ação foi considerada ilegal pela Justiça e Galvan chegou a ser proibido de se aproximar da praça dos Três Poderes.
Ainda de acordo com declarações do ministro à revista Veja, o principal desafio do Ministério da Agricultura neste momento diz respeito à sua imagem, altamente maculada nos últimos quatro anos diante da condescendência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em relação às invasões ilegais de terra, o desmatamento e incêndios provocados para fins de expansão agropecuária. A possibilidade de interrupção das práticas pelo novo governo seria a principal fonte da revolta do agro contra o novo presidente. 
Carlos Fávaro também indicou que espera fazer parte de um governo de diálogo, que permitirá o avanço de projetos para que o agronegócio passe a ser de fato sustentável – com o aumento, por exemplo, da regeneração produtiva de áreas degradadas pela pecuária.  Ele afirmou que apesar do reconhecimento de todos os percalços antidemocráticos causados por parte do setor que representa, acredita que apenas 5% de seus representantes estão, de fato, agindo de forma criminosa e ambientalmente irresponsável. 

Jornalista pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, atua há vinte anos na produção e pesquisa de conteúdo colaborando e coordenando projetos digitais, em mídias impressas e na pesquisa audiovisual
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