Política, religião e futebol se discutem – Diário do Nordeste

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Eleições gerais, fé no centro das mobilizações sociais e Copa do mundo – 2022 é o ano em que o bordão popular de que “política, religião e futebol não se discutem” cede lugar à importância e urgência do debate público sobre estes assuntos. Essa tríade expressa parte dos (des)afetos e (in)disposições presentes na sociedade brasileira atual. A polarização política, as posturas religiosas aguerridas e os casos de violência no mundo esportivo apontam justamente para um fanatismo das opiniões individuais geradores de ambientes de intolerâncias que comprometem nosso convívio coletivo.
Por trás do bordão, existem pelo menos dois problemas implicados: primeiro, é que “cada um tem sua opinião”, ou seja, em matéria de convicções individuais, as pessoas podem se fechar em suas certezas; segundo, significa também: “não se meta nas minhas opiniões”, como um tipo de “não interfira naquilo que acredito e mantenham-se distante de argumentar diferente do que creio”. Em ambos os casos, a ideia reforça uma postura de alienação que gera de falta de diálogo e, por consequência, favorece a intransigência com o outro.
De um lado, sabemos que numa sociedade democrática e plural, onde as liberdades individuais e opiniões diferentes devem ser respeitadas, as tensões fazem parte “normal” das relações e que não se pode cair na ingenuidade de acreditar que as divergências deixarão de existir. Entretanto, por outro, quando esses conflitos não são mediados por princípios e valores como o diálogo, o respeito e a moderação, o que temos é uma disfunção do todo social que leva a um tipo de sociofagismo (quando a sociedade “devora” a si mesma).
Nesse sentido, o grande problema que se coloca não é a defesa de uma ideologia política, da crença numa religião ou na torcida por um time, mas sim, permitir que convicções individuais alimentadas pelo fanatismo inflamem condutas de violência e ódio. Que sejamos capazes de ampliar e qualificarmos o diálogo público favorecendo o espaço para posições políticas desiguais, fé religiosas distintas e torcida para times diferentes, e assim, garantindo a pluralidade, a liberdade, respeito e o direito de que votem, creiam e torçam de acordo com suas preferencias pessoais, para o bem comum coletivo. Vamos dialogar?
Victor Breno é teólogo e cientista da religião

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