Políticos, família, 'de confiança': quem faz campanha com Lula e Bolsonaro – UOL Confere

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Jornalista formada em 2003 pela FIAM, com pós-graduação na Fundação Cásper Líbero e MBA em finanças, começou a carreira repórter de agronegócio e colaborou com revistas segmentadas. Na Agência Estado/Broadcast foi repórter de tempo real por dez anos em São Paulo e também em Brasília, desde 2015. Foi pelo grupo Estado que cobriu o impeachment da presidente Dilma Rousseff. No Valor Econômico, acompanhou como setorista do Palácio do Planalto o fim do governo Michel Temer e a chegada de Jair Bolsonaro à Presidência.
Colunista do UOL, em Brasília, e do UOL, em São Paulo
18/10/2022 04h00Atualizada em 18/10/2022 14h41
Os candidatos à Presidência da República possuem um núcleo restrito de pessoas próximas com quem trocam impressões a respeito da eleição. Estes grupos são formados por políticos e marqueteiros que discutiram, nos últimos meses, estratégias de propagandas de TV, debates e sabatinas, além de discursos e posicionamentos de Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Chamados de núcleo duro no jargão político, são integrados por membros dos partidos que compõem a coligação —e também pessoas de confiança dos candidatos. Neste ano, filhos e esposa integram esse grupo.

A campanha à reeleição do presidente Bolsonaro tem um núcleo duro formado apenas por homens. São integrantes que não pensam da mesma forma, têm funções diferentes e até alimentam rivalidades entre si. Neste grupo, há duas pessoas com o mesmo sobrenome do candidato: Flávio e Carlos Bolsonaro.
A lista de integrantes do quartel-general de Bolsonaro tem também ministros, líder partidário, ex-membro do governo. Todos exercem o papel de conselheiros —até agora, o presidente ouviu recomendações, mas a palavra final sobre o que é decidido é dele.
Os filhos. Filho primogênito do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) é considerado seu principal operador político. Já Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), vereador pelo Rio de Janeiro, é responsável pelas redes sociais —é ao trabalho dele que o presidente atribui a vitória nas eleições presidenciais de 2018.
A filiação do pai ao PL tem o dedo de Flávio —desde bem antes da campanha eleitoral. Estar em um partido estruturado era parte do planejamento para enfrentar a eleição. O passo seguinte foi a formação da coligação que apoia Bolsonaro e levantar os recursos para a campanha. Foi o filho que viajou para Mato Grosso e se reuniu com representantes do agronegócio.
Já Carlos tem um papel mais discreto e normalmente usa a internet para espalhar suas posições políticas —normalmente, não vai às viagens e tenta passar desapercebido nas reuniões, mas teve um papel decisivo no debate de domingo (16), quando orientou, de longe, o pai a mudar de postura.
Além do temperamento descrito como difícil por pessoas próximas, o perfil reservado está relacionado ao chamado Gabinete do Ódio. Integrantes da campanha apontam o vereador como líder do grupo que está na mira do STF por divulgação de fake news.
O homem do dinheiro. Na função de tesoureiro da campanha, Valdemar da Costa Neto, presidente nacional do PL, convenceu o presidente a gravar um vídeo pedindo doações. Bolsonaro resistiu num primeiro momento, mas acabou cedendo.
Enquanto Carlos é considerado alinhado ao que ficou conhecido como ala ideológica da campanha, o líder partidário integra o chamado núcleo político e tem maior interlocução com Flávio.
No governo —e na campanha. O núcleo político conta também com os ministros da Casa Civil, Ciro Nogueira, e das Comunicações, Fábio Faria.
Bolsonaro se elegeu como político antissistema, mas termina o mandato abraçado ao centrão —Ciro Nogueira é símbolo desta mudança de direção. Com histórico de alianças com o PT, ele chegou ao governo sob desconfiança, principalmente entre os ministros militares. Mas seu desempenho agradou e rendeu tanto espaço que Ciro é parte da ala política da campanha.
Ciro chamou a atenção ao pedir férias na reta final do primeiro turno e disse que ia focar na campanha o Piauí, seu berço político. A repercussão foi tão grande que desistiu e voltou a trabalhar na corrida presidencial. E ganhou espaço na campanha do segundo turno negociando alianças com governadores e partidos.
Já Faria se ocupa da estratégia de comunicação do candidato. Ele tenta marcar entrevistas a um espectro amplo de sites, canais de televisão e rádio para levar sua mensagem para pessoas de fora da bolha bolsonarista. Em muitos momentos, conseguiu que sua estratégia predominasse —inclusive na participação do presidente em debates.
Mas o ex-secretário de Comunicação Social do governo federal Fábio Wajngarten —que atua mais próximo da ala ideológica da campanha— trabalhou de maneira velada por outra tática. Ele preferia que Bolsonaro concedesse entrevistas a canais simpatizantes do governo federal. O ex-secretário também tinha a missão de melhorar o relacionamento da campanha de Bolsonaro com os meios de comunicação tradicionais. Não deu certo.
Faria, Ciro e Wajngarten apareceram, no debate presidencial, ao lado do que classificaram de “elemento surpresa”: levaram o ex-juiz, ex-ministro da Justiça e senador eleitor Sergio Moro (União Brasil-PR) para ajudar com informações contra Lula. Bolsonaro e Moro haviam rachado em 2020, depois que o então ministro acusou o presidente de interferir na Polícia Federal.
O grupo dos conselheiros que fazem parte do governo também conta com Vicente Santini —assessor especial do presidente—, que está em quase todas as viagens. Bolsonaro era amigo do pai dele, que também era militar, e Santini cresceu próximo à família.
Já foi secretário-executivo da casa Civil, exonerado após uso supostamente irregular de voos da FAB, mas retornou ao governo para o Ministério da Justiça e, depois, novamente ao Planalto.
Companheiros fiéis. General reformado, Braga Netto escolheu tirar a patente do nome que vai à urna eletrônica por entender que a função militar não tem o mesmo apelo de 2018. Se dependesse do centrão, ele nem estaria na chapa. O grupo de partidos que inclui PL, Republicanos e PP defendia um nome que agregasse mais bandeiras e trouxesse votos.
Braga Netto foi escolhido por ser confiável e não haver riscos de traição num eventual segundo governo. Tem perfil discreto e é considerado ruim de palanque por não ser bom de oratória —mesmo distante dos holofotes, é uma peça importante no núcleo duro da campanha.
Outro militar, mas da ativa, o ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, é apontado como assessor de estrita confiança do presidente e, ao longo do governo, foi ganhando influência também como conselheiro. Está sempre perto de Bolsonaro com o celular na mão —é dele a função de gravar e disparar os vídeos nas redes sociais de aliados e do próprio presidente.
Reportagem do jornal Folha de S.Paulo mostrou que a Polícia Federal encontrou no telefone de Cid mensagens suspeitas em torno de transações financeiras feitas pelo Gabinete do presidente. Além disso, foi incluído pelo ministro Alexandre de Moares no inquérito das fake news e chegou a prestar depoimento à PF por troca de mensagens com o blogueiro Allan dos Santos.
Cid também exerce influência na agenda —foi um dos articuladores da reunião de Bolsonaro com embaixadores para tentar desacreditar as urnas eletrônicas. O vídeo do encontro foi suspenso pelo TSE.
‘Novo’ integrante. Ex-prefeito da Barra de São Miguel (AL), José Medeiros Nicolau, mais conhecido como Zezeco, é de uma ala considerada “jovem” da campanha. Próximo ao ex-ministro do Turismo, Gilson Machado, Zezeco ocupou a secretaria-executiva da pasta e chegou a ser ministro interino por alguns dias em junho deste ano por conta da ausência do titular da pasta, Carlos Brito.
Está na campanha desde o fim de agosto e, além de acompanhar o presidente em diversas viagens, ajuda na organização e na estratégia das agendas.
Para a sexta campanha pelo Planalto —que já chamava de “mais difícil da sua história”, antes do primeiro turno— Lula se cercou de antigos parceiros petistas. No núcleo duro, estão em especial petistas que, ele considera, seguiram fiéis durante os tempos mais difíceis do partido, de 2016, com o impeachment de Dilma Rousseff (PT), até sua prisão (e soltura), entre 2018 e 2019.
De ex-ministros a petistas históricos, o grupo tem duas mulheres, a presidente petista Gleisi Hoffmann e a socióloga Janja da Silva, esposa de Lula, e um ex-opositor, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), atual vice e articulador entre setores conservadores.
O homem do plano de governo. Fundador do PT e ex-ministro-chefe da Casa Civil e da Educação de Dilma, Aloizio Mercadante (PT) foi senador, candidato ao governo de São Paulo e vice na chapa de Lula na sua segunda candidatura presidencial, em 1994.
Um dos principais fiadores da reeleição de Dilma, em 2014, Mercadante perdeu espaço no partido após o impeachment, mas é considerado por Lula um dos companheiros mais fiéis. Na eleição, é responsável pela coordenação do plano de governo.
Mercadante recebeu mais de 13 mil propostas da sociedade civil, associações sindicatos, federações e outras organizações para chegar ao texto final. É, ainda, um dos principais conselheiros de Lula, presente em todas as agendas e viagens.
A porta-voz institucional. Presidente do PT desde 2017, em um dos momentos mais frágeis do partido, Gleisi Hoffmann (PT-PR) é hoje a principal articuladora institucional da campanha. A deputada foi uma das grandes responsáveis pela coligação com nove partidos (e a chegada póstuma do Pros) em torno da chapa.
É, também, a porta-voz institucional da campanha. Como presidente, Gleisi é responsável por passar mensagens críticas para evitar ligar a polêmica diretamente a Lula.
O elo econômico e conservador. Tucano por 33 anos, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSB) foi alçado a vice no final do ano passado e sacramentado no primeiro semestre. Desde então, foi aceito até nos círculos mais resistentes do PT, com elogios públicos quase diários por parte de Lula.
Alckmin é responsável pela imagem de ponderação da campanha. Tem sido interlocutor com setores mais conservadores da igreja, do empresariado e do mercado financeiro. Além de rodar o interior paulista, onde é popular, para ajudar Fernando Haddad (PT) e o próprio Lula, também viajou ao Centro-Oeste na campanha do primeiro turno para conversar com empresários do agro.
A defesa das minorias. O petista tem dito com frequência que a socióloga Janja da Silva, com quem é casado desde maio, é responsável pelo reacendimento da sua juventude. Seu papel vai além.
Figura central da eleição, ela foi responsável pela inclusão de pautas acerca da defesa das minorias, como equidade de gênero e direitos LGBTQIA+, e diferente questões sociais, que vão de proteção social a desabrigados ao direto dos animais.
Também tem papel na organização dos eventos. Em viagens, apresenta o clipe “Sem Medo de Ser Feliz” e arquitetou o último grande evento da campanha em São Paulo, a “superleve” da última segunda (26).
Os comunicadores. Depois de um período tumultuado de disputa pela área de comunicação em maio, antes da pré-campanha, o prefeito de Araraquara (SP), Edinho Silva (PT), ex-ministro de Dilma, e o deputado Rui Falcão (PT-SP), ex-presidente do PT, tornaram-se os principais nomes da área.
Nomes de confiança de Lula, ambos têm perfil discreto. Participam da maioria dos eventos, mas não costumam discursar, com trabalho voltado aos bastidores.
O dono do cofre. Deputado por dois mandatos, Márcio Macêdo (PT-SE) é filiado ao partido desde a adolescência, nos anos 1980, e afilhado político do ex-governador Marcelo Déda (PT).
Já foi tesoureiro nacional do PT e hoje ocupa uma das vice-presidências do partido —além de ter as chaves dos cofres da campanha. Junto ao senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), foi a praticamente todas as viagens.
O braço no Nordeste. Governador do Piauí por quatro mandatos e candidato ao Senado, Wellington Dias (PT) é o principal coordenador da campanha na região em que Lula teve melhor desempenho no primeiro turno.
Junto ao deputado José Guimarães (PT-CE), a governadora Fátima Bezerra (PT-RN) e o senador Camilo Santana (PT-CE), Dias articulou grande parte das alianças na região.
Os conselheiros. Próximo ao petista, há ainda ex-ministros importantes que são ouvidos pelo ex-presidente e ajudam na articulação com diferentes setores:
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Carla Araújo Paulo e Paulo Roberto Netto

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