Por um espírito mais MST na política – Agência SAIBA MAIS

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A política é algo muito sério para ficar a cargo dos políticos. A frase irônica expressa um sentimento vivido por quem ousa sonhar com alternativas e com um mundo melhor. Atenção: não o melhor dos mundos. No reino da política institucional praticada pelos partidos, assistimos ao show da velhacaria dos discursos retóricos e assassinos de sonhos. Anulam qualquer dissenso em nome da acomodação para a governabilidade. Não importando se a interlocutora ou interlocutor tenha trajetória que nos orgulhe em matéria de ética, moral e zelo com a democracia. Desde os tempos de faculdade, sou vinculado ao Partido dos Trabalhadores. Fui da sua máquina de direção e assessor parlamentar. São 36 anos. Portanto, mais da metade da minha existência.
Nesses anos todos, sempre votei e fiz campanha para candidaturas petistas e ou das coligações majoritárias e proporcionais. Sempre defendi alianças políticas amplas nas eleições, mas a partir de princípios e programas. Como por exemplo: a favor da descriminalização do aborto (questão de saúde pública) e da maconha (para fins medicinais, indústria da moda, produção cooperativa de pequenos produtores, venda legal para o consumo individual). Uma política contra qualquer forma de preconceito a pobres e aos grupos GLBTQIA +.
Foco numa educação transdisciplinar complexa e que regenere as fontes de um saber humanista. Uma escola que pode ensinar um ofício de natureza instrumental e, ao mesmo tempo, despertar uma consciência crítica dos estudantes diante do mundo e, também, que tenham cabeças bem-feitas a partir de uma formação artística e literária. Gestão de governos que ajam como indutores de políticas públicas voltadas para os mais necessitados, destacadamente, aquelas nas áreas de educação e saúde.
Políticas que garantam todos na escola, na universidade, acesso a uma assistência à saúde com dignidade. Vida com mais prevenção e não escravas de uma medicina curativa e ávida em transformar doença em lucro privado. Com experiências da pandemia e de governos anocráticos (Trump e Bolsonaro), nunca o Estado, a Ciência, a Filosofia e as Letras foram tão importantes para a luta contra a tragédia letal da Covid-19, bem como dos fundamentalismos religiosos e políticos e advindos de grupos de extrema-direita.
O coquetel necropolítico trocou vacina e máscaras por cloroquina, trocou o discurso dos livros pelo das armas, além disso, relativizou o papel ético e moral da verdade por narrativas fakes. Pois bem, como afirmar outros valores já que a necropolítica foi derrotada eleitoralmente no Brasil? Lula derrotou Bolsonaro porque reuniu um conceito de nação democrática em torno dele. Mas ele sempre foi alguém que, originariamente, simbolizou rebeldia e identificação profunda com o povo e com mudanças na sociedade.
O PT e Lula são um corte paradigmático no país pós-regime militar. Entretanto, também envelheceram e se acomodaram ao discurso da ordem. As temáticas contemporâneas que estiveram na agenda eleitoral não tem se materializado como prioridades em ações dos eleitos. Aquelas chamadas ditas questões morais e religiosas que há anos são manipuladas pelos conservadores, não são levadas a sério na montagem dos governos. Sem falar na ausência de intelectuais generalistas, problematizadores, criadores de conceitos e de controvérsias estratégicas na pauta civilizatória. O que revela uma esquerda avessa ao exercício especulativo do pensar.
O mantra de todos os governos é: “o que interessa é a expertise de sujeitos treinados em apertar parafusos práticos da gestão”. Desta maneira, concluímos que sonhar é delirar como Quixote e seus moinhos de ventos da utopia.
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* Alex Galeno é cientista social e professor do Instituto Humanitas-UFRN

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