PTinder x Bolsolteiros: política influencia paquera em apps no Brasil – UOL Confere

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12/10/2022 12h42
“Por favor, me diga que você não é de esquerda, você é bonita demais pra ser”. Mas Vivian é apoiadora do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e por causa disso, a paquera no Tinder está fadada ao fracasso, uma demonstração de como a polarização política influencia as relações – inclusive as amorosas – neste ano eleitoral no Brasil.
Faltando cerca de três semanas para o segundo turno das presidenciais, em 30 de outubro, entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e Lula, a orientação política virou arma de sedução ou de descarte em aplicativos de relacionamentos, como Tinder, Bumble, Happn e Grindr.

“Eu sou de esquerda, vou perguntar em quem você vota; é importante que pensemos parecido”, alerta em seu perfil no Bumble Gabriela S., uma psicóloga de São Paulo de 25 anos, que prefere não revelar seu sobrenome.
“Não acho sentido em me relacionar com pessoas de direita”, sentencia Gabriela, que não se diz disposta sequer a dividir uma cerveja com quem associa, por exemplo, ao racismo ou ao desprezo com a comunidade homossexual.
“Gosto de aproveitar o mar, enquanto ainda não é privatizado pelo Paulo Guedes“, apresenta-se com ironia Nenê, um programador visual de 36 anos, fazendo alusão no Bumble à política liberal do ministro da Economia de Bolsonaro.
O peso do voto é tamanho que o filtro político é o “mais usado pelos brasileiros”, diz Javier Tuiran, diretor de comunicações do Bumble para a América Latina.
O uso desta ferramenta “inclusive aumentou nos meses que antecederam” o primeiro turno, celebrado em 2 de outubro, no qual o ex-presidente Lula chegou na frente com 48,43% dos votos, contra 43,2% do presidente, explica Tuiran.
Assim, a lei da física que enuncia que os opostos se atraem não parece se aplicar às relações afetivas.
“Só (aceito) quem não seja eleitora do Bolsonaro… Para todo o resto a gente dá um jeito”, diz em seu perfil no Tinder Rafael, de 37 anos.
“Algumas diferenças são bem-vindas, segundo a teoria da complementação, mas não em áreas onde vão maximizar as chances de desentendimentos sérios, como é agora para muitos a política” no Brasil, explica Ailton Amélio da Silva, doutor em Psicologia.
Além de ideologias contrárias, os eleitores de Lula e Bolsonaro se caracterizam por uma forte rejeição ao adversário, o que acentua a polarização no país.
José Mauro Nunes, professor da Fundação Getúlio Vargas e doutor em Psicologia, associa esta atitude em aplicativos de relacionamentos ao ativismo político presente há vários anos nas redes sociais e a um comportamento “tribal” (de pertencimento a um grupo social) exacerbado.
Isso explica a formação de “bolhas” ou grupos exclusivos para quem professa a mesma ideologia, sem contato com o mundo exterior.
Um exemplo é o aplicativo Lefty, exclusivo para esquerdistas. “A busca por um companheiro pode ser difícil por si só. Não ter essa possível incompatibilidade (política) é de grande ajuda para muitas pessoas”, diz Alex Felipelli, presidente da Similar Souls, proprietária do aplicativo com 15.000 usuários, que inclusive mede o nível de ativismo.
Outro caso é o pt.inder, uma conta no Instagram com mais de 26.000 seguidores, que “busca gerar interações, até com um espaço de anúncios entre opositores a Bolsonaro”, explica sua criadora, Maria Goretti.
Esta advogada de 38 anos se inspirou “no temor de amigas de conhecerem alguém incrível à noite e perceberem de manhã que ele é um nostálgico da ditadura ou outras ideias bolsonaristas”.
Segundo Goretti, sua iniciativa já colheu vários sucessos, coroados com casamento.
Os eleitores de Bolsonaro, por sua vez, podem aderir ao “Bolsolteiros”, grupo do Facebook com cerca de 6.700 membros.
Elaine Souza, uma assistente social de 46 anos, iniciou o grupo em 2019 com o mesmo espírito de evitar encontros indesejados: “a esquerda defende o que desaprovamos. Ser de direita já é meio caminho andado” na busca por um parceiro.
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Walter Casagrande Jr.

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