Qual será o futuro da direita após Bolsonaro deixar de ser presidente – Gazeta do Povo

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A derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas urnas e a sua saída da Presidência podem provocar uma “ramificação” da direita no Brasil durante os próximos quatro anos. Políticos e lideranças influentes da sociedade civil acreditam que, até as eleições de 2026, serão abertos espaços para diferentes nomes identificados com as defesas de pautas conservadoras e de liberdade econômica. Mas Bolsonaro ainda terá capital político para ser o principal líder da direita e do conservadorismo no país. Para isso, porém, terá de ocupar esse espaço.
Durante a campanha eleitoral, Bolsonaro chegou a dizer que iria “se recolher” se perdesse a disputa para Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No meio político, poucos acreditaram que essa era uma possibilidade real. O PL inclusive planejou formas de manter Bolsonaro em evidência, oferecendo a ele o cargo de presidente de honra do partido. Porém, após a derrota no segundo turno, o atual presidente efetivamente se recolheu e vem se mantendo em silêncio sobre os principais assuntos em discussão no país.
Ninguém sabe se Bolsonaro vai manter essa postura quando deixar o Planalto. De qualquer modo, com ele fora da Presidência da República, abre-se uma brecha para uma reestruturação do campo político liberal-conservador nas diferentes esferas do Poder. E isso poderá levar ao surgimento de novas lideranças na direita, inclusive com a possibilidade de que venham a disputar a Presidência em 2026.
O deputado federal Júnior Bozzella (União Brasil-SP), vice-presidente do diretório paulista de seu partido e crítico de Bolsonaro, entende que o vácuo deixado na direita abre espaço para quadros políticos mais “moderados” exercerem algum protagonismo, a exemplo do governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e do senador eleito Sergio Moro (União Brasil-PR). Moro inclusive chegou a ser pré-candidato a presidente em 2022.
O deputado federal Coronel Tadeu (PL-SP), vice-líder do partido na Câmara, diz que, além de Tarcísio e Moro, na direita destacam-se os governadores reeleitos de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e do Paraná, Ratinho Júnior (PSD). “São nomes que podem ocupar esse espaço. Mas, para mim, o Brasil já tem um primeiro candidato à Presidência em 2026, que é o presidente Bolsonaro.”
O empresário Paulo Generoso, criador e coadministrador da página da internet República de Curitiba e coordenador de movimentos de rua, diz que Bolsonaro segue favorito para 2026 na direita. Mas ele também entende que Tarcísio, Zema e Ratinho Júnior são nomes com chances de representar esse segmento político. “O nome mais forte é o do presidente, mas ele não tem ambição pelo poder. Saberemos só ao longo dos próximos quatro anos se ele vai concorrer ou se vai apoiar e transferir o capital político para alguém, como fez com o Tarcísio [na eleição em São Paulo]”, diz Generoso.
O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, que negociou a entrada de Bolsonaro no partido, pretende manter o atual presidente em evidência para que ele disputa a eleição de 2026 e ajude a legenda a crescer e a se tornar a maior da direita no país. Em entrevista coletiva pouco após o segundo turno, Valdemar assegurou que ele será candidato em 2026: “Quatro anos não são nada. Ele [Bolsonaro] é novo. Ele será nosso candidato a presidente em 2026. Eu não tenho dúvidas disso”.

Com 67 anos completos, Bolsonaro disputaria a Presidência com 71 anos caso lance sua candidatura em 2026. Para o deputado Coronel Tadeu, do ponto de vista da saúde do presidente, é algo possível. “O [presidente eleito] Lula disputou com 76 anos [o petista completou 77 ao fim do segundo turno]. Por que ele [Bolsonaro] não pode? É o nome mais forte e preparado para a disputa”, afirma Tadeu.
O deputado federal Bibo Nunes (PL-RS), vice-líder do partido na Câmara, é outro a apostar em Bolsonaro para 2026. “A volta do presidente é natural. Ninguém tem a liderança e o carisma dele. Ele sai deixando saudades com seu excelente posicionamento.”
Sobre a hipótese de ramificação da direita política e o surgimento de outros nomes, Tadeu diz que vai depender muito do que os outros postulantes fizerem, sobretudo os governadores. “Tarcísio, por exemplo, precisará ter uma boa equipe para saber se comunicar com o Brasil inteiro para mostrar que o que ele faz em São Paulo e que ele pode fazer no resto do país”, diz Tadeu. Já Bibo não vislumbra nenhum postulante com a estatura política de Bolsonaro. “Até porque o próprio presidente apoiou o Tarcísio.”
Por outro lado, não se pode descartar a possibilidade de Bolsonaro disputar sozinho a Presidência como o único nome da direita em 2026. Valdemar Costa Neto, por exemplo, abriu conversas com Zema para tentar filiá-lo ao PL, segundo afirmam interlocutores do partido à Gazeta do Povo. As negociações não envolvem garantias de ele ser candidato à Presidência.
O mesmo se aplica a Tarcísio. Segundo pessoas próximas do governador eleito de São Paulo, ele é leal a Bolsonaro e uma eventual candidatura à Presidência dependeria muito da vontade do presidente. Além disso, haveria um certo receio na família de Tarcísio sobre a possibilidade de ele tentar o Planalto. Interlocutores do governador eleito de São Paulo dizem que as eleições deste ano já geraram uma preocupação a ele em relação à sua segurança e a de sua família, e que ele ainda está se adaptando aos holofotes políticos.
Quanto a Ratinho Júnior, lideranças da direita ponderam que sua candidatura poderia ficar comprometida a depender dos rumos que o PSD tomar no governo Lula – o que também não impede que o governador do Paraná mude de partido.

Mesmo assim o deputado Júnior Bozzella avalia que o governador paranaense não tem chances de emplacar em 2026. “Nem ele, nem o Zema. São muito ‘água com açúcar”, avalia. Para Bozzella, os governadores do Paraná e de Minas tem perfis que não atraem o apoio de eleitores da direita menos moderada. “Moro talvez tenha possibilidade maior, pois é celebridade, tem toda a concepção, outra roupagem. É um outro verniz por tudo o que representou no passado”, diz.

Apesar de identificar caminhos para Moro disputar a eleição presidencial de 2026, ele também entende que a corrente de apoio a Bolsonaro é mais forte. “Com o Bolsonaro sendo protegido pelos próximos anos, como o PL está sinalizando que fará, eu acho que fatalmente ele vai continuar sendo a grande referência.”
O presidente nacional do PL deu sinalizações sobre o futuro de Bolsonaro. Não apenas deixou claro que conta com o presidente para ser o candidato do partido ao Planalto em 2026, como também se comprometeu a dar a estrutura necessária para ele percorrer o Brasil pelos próximos quatro anos.

Bolsonaro foi convidado por Valdemar para ser o presidente de honra do PL. O cargo inclui um gabinete para ele despachar e recursos para viajar o país e “continuar cultivando os milhões de seguidores” – embora a multa de R$ 22,9 milhões que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aplicou ao partido por questionar as urnas esteja dificultando esses planos. “A estrutura é a que ele necessitar. Vai ter uma área anexa ao nosso partido, e o que ele necessitar nós vamos fazer para ele. É importante que ele corra o Brasil, que continue fazendo política para a gente conseguir atingir os nossos objetivos”, disse Valdemar em novembro.
O principal objetivo de Valdemar é que o PL se torne o maior partido da direita no Brasil. O presidente do partido demonstrou disposição em investir até mesmo na formação de lideranças políticas conservadoras. Com seminários e palestras, por exemplo, ele quer difundir os valores conservadores.
Após ter conquistado nas eleições as maiores bancadas na Câmara e no Senado, o PL quer ampliar sua estrutura partidária e se consolidar no cenário político. Para isso, Valdemar entende que “empoderar” Bolsonaro é um caminho inevitável a ser percorrido.
O empresário Paulo Generoso admite que há essa disposição de Valdemar de tornar o PL uma força política conservadora em todo o Brasil. “Ele quer fazer isso de uma forma organizada, treinando os futuros candidatos a prefeitos, vereadores e deputados a incorporar definitivamente as pautas de direita ao estatuto partidário e à política do partido”, diz.

A ideia é classificada pelo criador do República de Curitiba como “fantástica”, desde que o compromisso seja mantido. “O PL saiu gigante por conta do bolsonarismo e também pela liderança do Valdemar. Mas vai precisar ter uma roupagem e assumir as pautas da direita como partido. Mas há muita boa vontade do Valdemar neste sentido”, afirma.
O silêncio de Bolsonaro após a eleição, porém, se tornou um empecilho com o qual várias lideranças ligadas a Bolsonaro não contavam. O próprio Valdemar passou a ter atitudes que normalmente seriam tomadas pelo próprio Bolsonaro. Após o segundo turno, por exemplo, foi o presidente do PL quem conduziu publicamente a contestação das urnas no TSE, que criticou decisões judiciais contra apoiadores de Bolsonaro e que incentivou manifestações a favor do atual presidente.
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