Retrospectiva 2022: Fórmula 1 proporciona material de sobra para novo Drive to Survive – Grande Prêmio

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A temporada de 2022 da F1 decepcionou nas pistas, mas fora delas foi interessantíssima. Tudo o que 2021 entregou esportivamente, o ano atual da principal categoria de automobilismo do mundo replicou para além dos limites dos circuitos do calendário.
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O prato ficou cheio, pois, para a produção de Drive to Survive. A série documental mostra diversos bastidores da F1 — principalmente em relação às vidas privadas de pilotos e chefes de equipe, algo que tem feito sucesso até mesmo com o público que não acompanha a categoria.
Popular entre os fãs, mas sem tal êxito dentre os pilotos — que reclamam da abordagem escolhida e acusam a série de tirar momentos de contexto (o que de fato ocorre) —, ‘DtS’ está renovadíssima para sua quinta temporada, que vai retratar os acontecimentos de 2022.
Esta, portanto, será uma análise de retrospectiva diferente do que você, aí do outro lado, está acostumado (a). Vamos fazer um exercício hipotético e imaginar qual seria a listagem perfeita de episódios para todo o drama que circulou ao redor das pistas neste ano de Fórmula 1.
Sinta-se em um catálogo da Netflix — e se a gigante do streaming quiser separar um bloquinho de notas, fique à vontade…
Não tem como começar de outra maneira, né? Enquanto negociava a permanência de Fernando Alonso, a Alpine tinha como plano emprestar seu então jovem piloto, Oscar Piastri, a Williams — para que o time de Grove pudesse desenvolvê-lo. Quando Alonso surpreendeu todo mundo e partiu para a Aston Martin, a equipe francesa pretendia recorrer ao plano B e efetivar Piastri.
Só esqueceram de combinar com o australiano — que, seduzido pela proposta inicial de titularidade, fechou acordo com a McLaren. O que se viu na sequência foi um verdadeiro show de horrores: a Alpine anunciou publicamente Piastri que, também publicamente, rejeitou a equipe francesa. 
As três partes travaram uma verdadeira disputa. Em setembro passado, o CRB (Conselho de Reconhecimento de Contratos, em português) — órgão da FIA (Federação Internacional de Automobilismo) que regula contratos —, validou o vínculo entre o australiano e a equipe de Woking. Inegável fiasco.
Dona Netflix, já aproveita o gancho e emenda a triste história de Daniel Ricciardo na F1 2022 no segundo episódio. A McLaren só foi atrás de Piastri porque o australiano, mais uma vez, simplesmente não conseguiu render com a esquadra de Woking. Outra temporada péssima para a conta.
E aí, como disse o cantor Akon em sua música de 2006, que intitula o episódio: I understand that there are some problems / And I’m not too blind to know / All the pain you kept inside you / Even though you might not show. Em português claro: Ricciardo sabia que, se continuasse com performances ruins, seria demitido — mesmo com um discurso superficial de apoio da McLaren.
Dito e feito: pouco antes de confirmar Piastri, a equipe de Woking anunciou a rescisão de contrato com Ricciardo — o vínculo, inicialmente, era válido até o fim de 2023. O próprio Honey Badger admitiu a culpa. “O carro certamente expôs algumas das minhas fraquezas, tenho de aceitar isso. Mas sinto que provavelmente fomos mal por pensarmos demais nas coisas a todo o tempo”, afirmou.
Quem eu quero não me quer, quem me quer não vou querer. A música de Marília Mendonça é ótima, mas não pode ser usada para retratar a verdadeira novela envolvendo Colton Herta, AlphaTauri e a Federação Internacional de Automobilismo (FIA). Até porque, neste caso, piloto e equipe exerceram a reciprocidade — mas o órgão regulador fez questão de fazer o casamento virar divórcio.
Quando Alonso deu tchau para a Alpine e os franceses se frustraram com Piastri, os olhos da equipe voltaram-se a Pierre Gasly. A AlphaTauri, até então, tinha contrato com o piloto até o fim de 2023 — mas o desejo do francês falou mais alto. Helmut Marko e companhia deixaram claro: Gasly só sairia do time de Faenza se alguém empolgante estivesse disponível.
Jovem americano e bom piloto da Indy, Colton Herta tornou-se o nome ideal para os taurinos. Só que no meio do caminho havia uma FIA. A entidade, que já não valoriza a categoria dos Estados Unidos como deveria, disse que não iria conceder uma exceção a Colton e presenteá-lo com a superlicença — necessária para que um piloto possa correr na F1. A própria categoria e as equipes apoiaram tal decisão, em nome da credibilidade. E no fim das contas, a AlphaTauri superou o ex rapidamente e logo fechou com Nyck de Vries. Pobre Colton…
Toda série que se preze coloca um episódio leve no meio de outros mais intensos, e nosso exercício imaginativo, isso não poderia faltar. Como nossa temporada começou com tudo, faz-se necessário acalmar os ânimos. E nada melhor do que aproveitar a chegada da Audi à Fórmula 1 para isso.
Depois de estar presente nas discussões sobre as diretrizes técnicas da próxima geração de motor durante mais de um ano, a montadora alemã pôs fim à espera e oficializou, em agosto, que fará parte da principal categoria de automobilismo do mundo a partir da temporada de 2026.
Para isso, a Audi oficializou parceria com a Sauber — que vai ‘abandonar’ a Alfa Romeo. Os alemães sempre quiseram ter a própria equipe e controlar todas as operações, mais do que um simples vínculo de fornecimento de motores. Os preparativos já estão a todo vapor e envolvem atualização de estruturas e contratação de novos funcionários.
2022 marcou o primeiro capítulo da relação entre a Fórmula 1 e Miami. Pela primeira vez na história, a cidade do sul da Flórida recebeu uma corrida da categoria — e, para isso, construiu uma pista de rua no entorno de um estádio de futebol americano. Diversos shows e atrações aconteceram antes, durante e depois das ações no traçado. Um clima total de Super Bowl. Com certeza, este seria o limite do tal entretenimento americano, certo?
Errado. Ah, errado, errado, errado.
Antes mesmo da conclusão do traçado, barcos foram colocados no meio da pista para a construção de uma marina… falsa. Sim, falsa. Com propósito somente decorativo e barcos de verdade, mas água de mentira, a instalação se fez presente no miolo das curvas 6, 7 e 8. A organização do GP resolveu até fazer uma pintura que emulava o movimento das ondas e do mar. 
Como se o artificial já não fosse artificial demais, a marina estará de volta em 2023. Não só estará de volta, como ficará ainda maior. Ê laiá…
Vamos aproveitar que o tema é água e, para já retomarmos o ritmo mais intenso de episódios, falar do principal tema do início da temporada: o porpoising. E como música e TV andam juntas — você já percebeu isso, lendo essas sinopses fictícias —, aqui vai mais uma. Os pilotos do grid não estavam ouvindo Ara Ketu, mas pularam que nem pipoca.
Para permitir que os modelos de 2022 conseguissem ter mais facilidade em ultrapassar, uma vez próximos uns aos outros, a F1 determinou uma série de mudanças aerodinâmicas. Foi a maior alteração no regulamento em 40 anos, você sabe. Como resultado dessas mudanças, o carro ficou mais próximo ao solo — um efeito intencional, para diminuir superaquecimento e turbulência. Só que esse efeito-solo tornou-se um problema e os carros passaram a, literalmente, quicar sem parar. 
O movimento do golfinho assolou as equipes, principalmente a Mercedes. Quem não se lembra da cena de Lewis Hamilton mal conseguindo sair do carro após o GP do Azerbaijão, por conta das dores? O problema foi tamanho, que a FIA precisou intervir. O órgão regulador passou a medir o porpoising em cada carro e obrigou as equipes a operarem dentro de um limite considerado seguro para os pilotos. Além disso, aprovou mudanças para redefinir os requisitos de rigidez do assoalho e peças ao redor dos furos de medição de espessura, forçando a alteração de alguns projetos dos times.
Ô dona FIA, aproveita que você já está por aqui e fica mais um pouquinho. Afinal, também não dá para não falar sobre a sequência de trapalhadas da entidade que rege o esporte — que deixariam Renato Aragão, Dedé Santana, Mussum e Zacarias com inveja. 
Michael Masi, muito criticado, foi substituído no cargo de diretor de provas — que passou a ser ocupado por uma junta, formada por Niels Wittich e Eduardo Freitas. Só que os dois mostraram falta de sintonia e acumularam polêmicas: a fiscalização intensa da regra das joias e o apreço exagerado pelo safety-car virtual, só para citar alguns exemplos, geraram críticas extremamente justificáveis. 
Só que a situação passou a ser insustentável na reta final da temporada. A revelação do furo do teto de gastos pela Red Bull, o GP do Japão — com confusão no anúncio do título de Max Verstappen e até flerte com tragédia com inexplicável entrada de trator na pista, também em Suzuka… difícil de defender. 
Ah, Ferrari… foi uma temporada turbulenta. A escuderia italiana voltou ao pelotão da frente depois de anos difíceis, mas ainda assim conseguiu decepcionar — daquele jeitinho que só o time de Maranello sabe como fazer. 
Os já tradicionais erros de estratégia, as sucessivas confusões no comando, tretas internas… tudo isso afastou a Ferrari da disputa pelo título — o que permitiu que a Red Bull conquistasse, talvez, os troféus mais fáceis de sua história. Fica até difícil apontar as corridas nas quais o time não errou. 
Essa falta de fôlego da escuderia fez com que Mattia Binotto pagasse o preço e, ao fim da temporada, tivesse sua saída do posto de chefe de equipe confirmada. Os bastidores e as movimentações em Maranello, longe das pistas, compõem a promessa de episódio apimentado neste nosso exercício.
Alerta de clima tenso entre os brothers! A Red Bull conseguiu a proeza de terminar um 2022 perfeito da F1 envolvida em polêmica, após o furo do teto de gastos. Mesmo assim, os taurinos contavam com Max Verstappen e Sergio Pérez: até então, uma dupla de sintonia, entrosada. Só que nem isso sobreviveu ao ano caótico no time de Christian Horner e companhia. 
Verstappen, que já não brigava por mais nada no campeonato, se recusou a ceder posição para ‘Checo’ em Interlagos. O que se viu na sequência foi uma troca de farpas intensa: o holandês afirmou que não faria isso e que era para a equipe “não perguntar de novo” porque ele “já tinha dado os motivos”, enquanto o mexicano disse que o episódio “mostra quem ele realmente é” e que, se Verstappen ele tem dois títulos, “deve agradecer a mim”.
O suposto ato de vingança de Verstappen gerou um efeito dominó de polêmicas. “Parece que está rolando um show das Kardashians por lá. É hilário, algumas das coisas que ouvi nos últimos dias são muito divertidas”, disse o rival Hamilton. Pressionado a dar algum tipo de exemplo, Hamilton recordou o agora deletado comentário da mãe de Verstappen, no Instagram, acusando Pérez de trair a esposa. “Não posso dizer… a mãe de alguém postando algo, não sei. Apenas coisas muito interessantes acontecendo. Tenho certeza de que tudo estará na Netflix — vai ser ótimo”, concluiu, fazendo referência a ‘Drive to Survive’. 
Ao menos na nossa série, Lewis, o episódio é presença garantida. 
Não é exatamente algo que extrapolou as pistas, mas o episódio final da nossa temporada de Drive to Survive precisa acompanhar o tom de despedidas. Por favor, leitor (a), leia essa sinopse ouvindo See You Again, de Charlie Puth e Wiz Khalifa. It’s been a long day without you, my friend…
Sebastian Vettel criou uma conta no Instagram, no final de julho, e deixou o universo da Fórmula 1 alvoroçado. Quase que no dia seguinte, revelou ao mundo o motivo da chegada às redes sociais, anunciando que iria se aposentar da F1 ao final da temporada. O tetracampeão divulgou um vídeo explicando sua decisão, e colocando a família e lutas por sustentabilidade como prioridades em sua vida.
A partir daí, uma verdadeira ‘tour’ de despedida se seguiu. Em Abu Dhabi, última corrida do calendário, especialmente: Vettel foi eleito ‘Piloto do Dia’, fez zerinho na reta principal e foi massivamente exaltado pelo público presente e pela própria organização da F1. Fim perfeito para uma temporada agitadíssima nos bastidores, não acha?

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