Sakamoto: No STF, Lula mostra respeito institucional que Bolsonaro não teve – UOL Confere

Colaboração para o UOL, em São Paulo
09/11/2022 18h55Atualizada em 10/11/2022 15h23
O colunista do UOL Leonardo Sakamoto analisou a reunião de hoje do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). Para ele, o encontro simboliza a “volta à normalidade” no país.
“Essa imagem representa respeito institucional, valor e importância que cada instituição desempenha na República”, disse Sakamoto no UOL News. “O próximo presidente da República está se colocando como alguém que quer trabalhar junto, ou seja, no mesmo espaço democrático que os 11 ministros da Suprema Corte brasileira — coisa que o presidente Jair Bolsonaro não fez.”

O encontro entre Lula e os ministros do STF foi realizado na presidência do tribunal e durou cerca de uma hora. O petista disse aos integrantes da Corte que atua para viabilizar a chamada PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Transição, que busca abrir espaço no orçamento para bancar promessas do governo eleito, como o Bolsa Família ampliado e o aumento do salário-mínimo.
“Essa imagem mostra a substituição de alguém técnica, pessoal, moral e democraticamente desqualificado por uma pessoa que também tem seus defeitos, mas que se propõe a governar dentro do espaço democrático”, analisou Sakamoto.
O colunista acrescentou que a reunião entre Lula e os ministros pode causar estranheza entre os bolsonaristas. “Muitos podem falar que ele estava ‘em conluio’ [com os ministros], mas não se importam que o Bolsonaro aja de forma cordial com pessoas criminosas”, afirmou.
“Bolsonaro sistematicamente divide espaço, dá tapinha nas costas, faz festinha, abraça bandido, haja vista as fotos de Jair Bolsonaro com Roberto Jefferson, que metralhou com 50 tiros de fuzil um carro da PF”, disse Sakamoto.

A colunista do UOL Carolina Brígido concordou que a imagem de Lula ao lado dos ministros do STF representa um reestabelecimento da relação institucional entre o Palácio do Planalto e a Corte.
“Quando Bolsonaro foi eleito, em 2018, foi divulgado o vídeo em que o filho dele falava que bastava um cabo e um soldado para fechar o STF. Bolsonaro depois falou que não era nada disso, mas, ao longo dos quatro anos de mandato, a gente viu ele apoiando manifestações que defendiam fechamento do STF”, disse. “Era e ainda é uma relação muito tensa, tanto que Bolsonaro não compareceu na posse da ministra Rosa Weber como presidente do STF.”
“Agora, vemos esse encontro de Lula com os ministros do STF onde foram debatidos problemas do país. E o petista falou que estará sempre muito bem-disposto para reconstruir a união do país”, prosseguiu a jornalista.
“Inclusive, quando Lula ganhou a eleição, a maioria dos ministros do STF respirou aliviada — não porque são partidários de Lula, mas são da institucionalidade. Era isso que estava faltando no Brasil.”

Sakamoto também falou sobre o encontro de Lula com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). Apuração do colunista Tales Faria mostra que o presidente eleito acertou com Lira que a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Transição deverá ser aprovada até o próximo dia 15 de dezembro.
“As cúpulas da Câmara e do Senado estão fazendo de tudo para se manter no poder no primeiro e segundo anos do governo Lula”, analisou Sakamoto. “Arthur Lira e Rodrigo Pacheco estão jogando. Já começa com Lula precisando da ajuda dos dois para aprovar ainda neste ano o orçamento alterado com uma parte importante das promessas de campanha.”
“Sabendo disso, Lira, muito espertamente, foi um dos primeiros a reconhecer a vitória de Lula — mesmo sendo um grande aliado de Bolsonaro. Fez isso porque o Centrão é eterno, fareja e sabe onde está o poder. E o Centrão, ao longo da campanha, deixou muito claro: ‘Bolsonaro, nós vamos com você até o final, mas não peça para morrer junto no naufrágio do navio”, disse o colunista.
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