Sem Bolsonaro, presidentes do Mercosul se reúnem à espera do diálogo com Lula – UOL Confere

0
120

06/12/2022 11h51
A Argentina assume pelos próximos seis meses a Presidência rotativa do Mercosul esperando reconstruir com o Brasil o eixo da integração regional. O presidente Jair Bolsonaro não está presente na Cúpula do Bloco que acontece em Montevidéu, no Uruguai, nesta terça-feira (6). A reunião está sendo marcada pelas discussões em torno da rebeldia do Uruguai que negocia, unilateralmente, acordos comerciais com outros países e blocos. Uma postura que gera tensão no bloco. 
A Argentina assume pelos próximos seis meses a Presidência rotativa do Mercosul esperando reconstruir com o Brasil o eixo da integração regional. O presidente Jair Bolsonaro não está presente na Cúpula do Bloco que acontece em Montevidéu, no Uruguai, nesta terça-feira (6). A reunião está sendo marcada pelas discussões em torno da rebeldia do Uruguai que negocia, unilateralmente, acordos comerciais com outros países e blocos. Uma postura que gera tensão no bloco. 
Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

A ausência do presidente Jair Bolsonaro – que enviou no seu lugar o vice-presidente Hamilton Mourão – na reunião de Cúpula do bloco ilustra a pouca importância que o atual governo brasileiro deu à política externa.
“Mais do que ilustrar como Bolsonaro deu as costas para a região, este é mais um exemplo de como deu as costas para a política exterior”, aponta à RFI o analista internacional Rosendo Fraga.
“Não ter ido à Conferência do Clima no Egito (COP 27), no mês passado, era previsível porque, se tivesse ido, seria criticado. Mas não ter ido à reunião do G20 na Indonésia no mês passado, onde se reuniria com todos os líderes globais, está em linha com a sua subestimação da política exterior”, explica Fraga, diretor do Centro de Estudos União para a Nova Maioria.
Este era o último compromisso internacional do presidente Jair Bolsonaro, antes do término do seu mandato. Era uma oportunidade para Bolsonaro defender as suas ações como o acordo fechado entre o Mercosul e a União Europeia, o avanço das negociações com Singapura, Canadá e Indonésia e a redução da Tarifa Externa Comum do Mercosul (TEC).
Embora o acordo com a União Europeia não tenha sido ainda ratificado, as demais negociações não estejam ainda fechadas e a redução da tarifa tenha sido pequena, não deixam de ser conquistas, sobretudo num contexto atravessado pela pandemia. Era também uma chance de se despedir dos principais parceiros do Brasil.
O Mercosul e a União Europeia fecharam um acordo em 2019, ainda sem ratificação. A União Europeia alega que a ausência de uma política ambiental por parte do Brasil não permite a aprovação do acordo, embora o texto tenha salvaguardas específicas sobre a matéria.
O chanceler argentino, Santiago Cafiero, revelou que “o Mercosul tem feito todos os esforços possíveis para concluir com os temas pendentes”, mas que a União Europeia demonstra pouca flexibilidade e aparece com novas exigências que não estavam na mesa de negociação quando o acordo foi fechado em junho de 2019.
Essas exigências, sublinhou o ministro argentino, podem tornar irrelevantes as concessões da Europa obtidas pelo Mercosul no acordo. Essas negociações serão conduzidas pela Argentina ao longo do próximo semestre.
Para Rosendo Fraga, a chegada de Lula ao poder deve implicar uma abertura ao diálogo, fechado com Bolsonaro, mas essa abertura não necessariamente leve a uma ratificação do acordo.
O analista acredita que o acordo dificilmente será levado à prática devido às exigências da Europa por menores tarifas com as quais os governos de Brasil e Argentina não devem concordar.
O presidente Jair Bolsonaro, paulatinamente, virou as costas para os vizinhos. Quando chegou ao poder, manteve diálogo apenas com os países governados pela direita. Depois, à medida que esses países passavam a ser governados pela esquerda, Bolsonaro se afastava.
Com a chegada de Lula, o Brasil deve voltar a exercer uma liderança que costure entendimentos e que seja a voz representativa da região. Para Fraga, haverá uma mudança substancial no terreno do diálogo e uma maior valorização do Mercosul, sem que isso necessariamente signifique um bloco mais operacional.
A Argentina quer impulsionar a incorporação formal da Bolívia ao Mercosul e a volta da Venezuela, suspendida por “ruptura democrática” desde 2017. Mas para o analista, essas duas incorporações não devem acontecer, já que os dois países não estão dispostos a realizar as reformas exigidas para integrar o Mercosul. Além disso, o Uruguai deve resistir, assim como os Congressos do Brasil e da Argentina, onde a centro-direita tem boa representatividade.
Fraga vê Lula reorganizando a União das Nações Sul-americanas, a UNASUL, e voltando à Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos, a Celac. Durante o governo Bolsonaro, o Brasil abandonou esses dois foros regionais.
Os assuntos que serão debatidos nesta terça-feira pelos presidentes foram analisados pelos ministros das Relações Exteriores de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai nas últimas horas, durante a reunião preparatória.
O principal debate foi quanto à agenda de negociações externas do Mercosul por acordos de livre comércio com outros blocos e países. O ponto de discórdia é o Uruguai.
O presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, está decidido a avançar de forma unilateral com negociações com outros países, mas por fora do Mercosul. Essa decisão viola as normas de uma União Alfandegária, que exige regras comuns.
O Uruguai alega que o Mercosul não avança e que se tornou uma camisa-de-força, restringindo as oportunidades para a economia uruguaia que precisa se abrir ao mundo.
Na semana passada, o Uruguai apresentou formalmente à Nova Zelândia uma solicitação de adesão ao Tratado Integral e Progressista da Associação Transpacífico (CPTPP), um bloco comercial entre 11 países banhados pelo Oceano Pacífico.
Esse movimento provocou uma queixa formal de Brasil, Argentina e Paraguai, incluindo uma advertência sobre a possível adoção de medidas contra o Uruguai se um tratado for assinado.
No ano passado, o Uruguai já tinha aberto negociações com a China por um Tratado de Livre Comércio, causando atritos com Brasil, Argentina e Paraguai.
O chanceler uruguaio, Francisco Bustillo, acusou o Mercosul de ser um bloco “imóvel”, “sem acordos com nenhuma das 10 principais potências do mundo” enquanto o chanceler argentino, Santiago Cafiero, advertiu que as “atitudes unilaterais” do Uruguai “preocupam” e podem levar a uma “ruptura”.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}

Por favor, tente novamente mais tarde.

Não é possivel enviar novos comentários.
Apenas assinantes podem ler e comentar
Ainda não é assinante? .
Se você já é assinante do UOL, .
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia os termos de uso

source

Leave a reply