Sem tradição no futebol, Seleção do Catar abre Copa do Mundo precisando vencer equipes mais técnicas e experientes – Revista Fórum

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A Seleção do Catar fará no próximo dia 20 de novembro não apenas a partida inaugural da Copa do Mundo como também a sua própria estreia no torneio mais importante do futebol mundial. O país não tem tradição no esporte e de acordo com especialistas sequer estaria classificado caso não fosse o país-sede. Entre os jogadores convocados para o mundial nenhum joga em mercados considerados de alto nível, sobretudo europeus. Os atletas atuam na própria liga catari em equipes conhecidas apenas localmente como o Al-Sadd e o Al-Duhail, as principais do país. Além disso, o Catar está na mira da opinião pública internacional por ser governado por uma monarquia absolutista que desrespeita direitos humanos, em especial das mulheres e da população LGBTQIA+.
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O futebol começou a ser praticado no país em 1940 de forma recreativa, levado por trabalhadores estrangeiros após a descoberta de reservas de petróleo em Dukhan. A primeira partida oficial disputada no país ocorreu em 1948 e foi jogada por trabalhadores estrangeiros. A Associação de Futebol do Catar só foi formada em 1960. No entanto demorou cerca de uma década até que a seleção do Catar entrasse em campo pela primeira vez, em 27 de março de 1970, meses antes do Brasil sagrar-se tricampeão do mundo no México.
O único título oficial conquistado pela seleção do Catar veio só em 2019, quando venceu a Copa da Ásia, batendo o Japão na final por 3 a 1 em jogo disputado em Dubai, nos Emirados Árabes. O Catar venceu o Líbano, a Coreia do Norte e a Arábia Saudita na primeira fase. Nas oitavas de final bateu o Iraque por 1 a 0 e avançou para as quartas de final onde novamente venceu pelo placar mínimo, dessa vez a Coreia do Sul. Nas semifinais venceu os Emirados Árabes Unidos por 4 a 0. O atacante Almoez Ali, nascido no Sudão, foi o principal destaque da seleção catari no torneio, marcando 9 gols.
Os donos da casa entram em campo no próximo dia 20 de novembro (domingo) contra a seleção do Equador pela partida de abertura do mundial. O jogo será no estádio Al Bayt, na cidade de Al Khor, e transmitido às 13h no horário de Brasília. Em seguida, no dia 25 de novembro, o Catar enfrenta a seleção do Senegal no estádio Al Thumama, às 10h. O encerramento da participação dos cataris na fase de grupo ocorre no estádio Al Bayt contra a seleção da Holanda em 29 de novembro, às 12h.
O Catar é um emirado no Oriente Médio, ou seja, um território administrado por um membro da elite dominante local. Seu território é composta por uma península na costa nordeste da Península Arábica, banhada pelo Golfo Pérsico. Faz fronteira terrestre apenas com a Arábia Saudita, mas tem próximo o Bahrein ao norte e os Emirados Árabes Unidos a sudoeste. Do outro lado do mar, a leste e nordeste, está a costa do Irã.
O país é um emirado absolutista comandando pela dinastia da Casa de Thani desde o século XIX. Chegou a ser um protetorado britânico até ganhar sua independência em 1971, mas para além das autoridades coloniais, as famílias da nobreza catari sempre estiveram no topo do poder, inclusive colaborando com os colonizadores. O atual emir do Catar é Tamim bin Hamad bin Khalifa al-Thani. Ele assumiu o trono em 25 de junho de 2013 após seu pai, Hamad bin Khalifa al-Thani, abdicar.
O país não goza de legislatura independente, partidos políticos são proibidos e as prometidas eleições parlamentares ainda não saíram do campo das promessas. A Charia é a principal fonte jurídica do país de acordo com a própria Constituição do Catar. Quando considerada em um processo, por exemplo, a palavra de uma mulher vale menos que a de um homem. O consumo de álcool ou a prática de sexo fora do casamento podem ser punidos com duros castigos físicos.
Isso explica por exemplo o fato de que no Catar é crime ser homossexual. Por conta disso, organizações de Direitos Humanos intensificaram o monitoramento do país no que diz respeito aos tratados internacionais de Direitos Humanos. Para o torneio mundial de futebol, espera-se, ao menos, um milhão de turistas. Documento elaborado pela Human Rights Watch relata seis casos de graves agressões e de forma repetidas, e cinco casos de assédio sexual em custódia policial entre 2019 e 2022.
O relatório destaca um caso em que quatro mulheres trans, uma mulher bissexual e um homem gay teriam sido levados para uma prisão subterrânea em Doha por agentes do Departamento de Segurança Preventiva do Ministério do Exterior. De acordo com a organização, no local “as pessoas foram agredidas verbalmente e submetidas a abusos físicos, com tapas, chutes e socos que provocaram sangramento”. O relatório também informa que as pessoas tiveram confissões forçadas e atendimento médico negado, assim como o contato com suas respectivas famílias e acesso à representação jurídica.
Além disso, os detidos foram obrigados a desbloquear os celulares e entregarem os contatos de outras pessoas LGBT às autoridades do governo do Catar. Judicialmente, as LGBTQIA+ podem ser punidas até 7 anos de prisão. Segundo a organização, nenhum dos detidos relatados no documento foram indiciados.
Ao tomar conhecimento do relatório produzido pela Human Rights Watch, o governo do Catar negou as informações do relatório e disse que elas são falsas. Também declarou que não tolera nenhuma forma de discriminação e que a polícia do país tem compromisso com os direitos humanos.
As precárias condições e criminalização das vidas LGBTQIA+ no Catar ainda devem render durante a Copa, pois, uma série de jogadores e capitães de seleções se comprometera a usar braçadeiras em apoio à comunidade LGBTQIA+. O governo do Catar atua para tentar evitar tais manifestações.
O território do Catar tem registros arqueológicos de ocupação humana pré-histórica. No século VIII a península catari tornou-se um grande centro de comércio de pérolas dada sua posição geográfica. Ao longo da idade média sofreu com as presenças militares portuguesa e persa, até que em 1871 foi incorporado pelo Império Otomano, com sede onde hoje é a Turquia.
Após uma extensa revolta árabe contra o Império Otomano durante a primeira guerra mundial, levada a cabo em diversos países, conseguiu expulsar os otomanos. A família al-Thani, pró britânica, então abriu as portas do país que tornou-se protetorado britânico até 1971, quando a influência da Rainha já se dissipava na região. Em 1972 o país vive um autogolpe decorrente de desacordos na família real e dois anos depois a Qatar Geral Petroleum Corporation assume o controle das reservas do país, fazendo com que o país rapidamente enriquecesse.
O Catar tem uma população de aproximadamente 3 milhões de pessoas, das quais apenas pouco mais de 10% são nativas do país. A maioria da população é oriunda de trabalhadores estrangeiros, sobretudo de outros países árabes, além de Índia, Paquistão, Nepal, Bangladesh, Sri Lanka e Filipinas. O país não cobra impostos dos seus cidadãos.
O PIB do Catar em 2020 foi de 183 bilhões de dólares e a renda per capital calculada em cerca de 66 mil dólares. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) bateu 0,848 em 2019 e foi considerado ‘muito alto’. Ainda que o país esteja tentando criar políticas de geração de recursos por fora do setor petroleiro e energético, 50% do PIB, 85% da exportação e 70% das receitas do governo ainda dependem do petróleo e do gás. Graças a essa indústria que o país apresenta a segunda maior renda per capita do mundo.
Como muitos leitores já devem imaginar, o árabe é a língua oficial do país, e o dialeto árabe-catari é a variação local do idioma. Além disso, o Catar também apresenta um uso considerável do inglês e do francês dada a forte presença estrangeira. O islamismo é a religião oficial do país e a mais praticada pela população, cerca de 68%. Desses, a maioria segue a vertente sunita e apenas 5% seriam xiitas. Religiões oriundas dos países de origem da população trabalhadora estrangeira também podem ser praticadas no país se tiverem permissão real.
A maioria dos jogadores da seleção do Catar são completamente desconhecidos do públicos e todos jogam na liga local. O principal destaque é o atacante Almoez Ali, que já marcou 17 gols pela seleção catari, 9 deles na campanha campeã da Copa da Ásia de 2019. Ao todo, marcou em torno de 60 gols na carreira, somando clubes profissionais e a seleção catari.
Nascido em 19 de agosto de 1996 em Cartum, capital do Sudão, o atacante Almoez Ali foi ainda criança para o Catar com a família, onde começou sua carreira como jogador de futebol. Após passar por clubes cataris nas divisões de base, lançou-se como profissional em 2015 no LASK Linz, da Áustria. No mesmo ano também jogou no FC Pasching, também austríaco e, em 2016 atuou pelo Cultural Leonesa, da Espanha, antes de voltar ao Catar e jogar no Lekhwiya. Na temporada seguinte transferiu-se para o Al-Duhail, um dos principais clubes cataris, onde joga até hoje.

 

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