Só alta da abstenção não reverteria vantagem de Lula no 2º turno – Poder360
Projeção indica que até com não comparecimento recorde Bolsonaro teria de conquistar 4,8 milhões de votos para ultrapassar petista
Um aumento do não comparecimento no 2º turno, especialmente de mais pobres, tende a favorecer Jair Bolsonaro (PL) no 2º turno das eleições de 2022. Mas deve ser insuficiente, por si só, para tirar os 6,2 milhões de votos de diferença que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) obteve no 1º turno.
É isso o que mostra uma simulação feita pelo Poder360 usando a média histórica de alta na abstenção em todas as unidades da Federação. No cenário projetado (leia mais detalhes abaixo), a alta de abstenção conseguiria retirar 1,4 milhão de votos da vantagem do petista.
Ou seja, mesmo que a abstenção o favoreça, Bolsonaro ainda precisaria conquistar 4,8 milhões de votos a mais do que Lula para assumir a dianteira.
O cenário de aumento na abstenção acima tem premissas favoráveis a Bolsonaro:
O cálculo do Poder360 é uma adaptação do simulador criado por Örjan Olsén, 73 anos, doutor em comunicação pública pela Syracuse University e diretor da Analítica Consultoria. No simulador de Olsén, que assume premissas diferentes, a conclusão também é de que a alta de abstenção não deve ter efeito determinante no 2º turno.
O cenário calculado acima é altamente favorável a Bolsonaro. A simulação de votos considera que 70% do impacto da abstenção estará concentrado em Lula porque os mais pobres e menos escolarizados, que votam mais no petista, são mais presentes entre os que deixam de votar. Não está claro, porém, que o impacto seria tão concentrado.
Outras variáveis, como a idade, não presentes na simulação, podem não ser tão benéficas a Bolsonaro. É possível, por exemplo, que uma alta de abstenção entre idosos ou de pessoas que viajem para aproveitar um feriado prolongado (de 28 de outubro a 2 de novembro) prejudique o presidente.
Se a alta de abstenção no 2º turno seguir a média do que se verificou de 2014 a 208, o não comparecimento seria recorde. Ela subiria de 20,95% no 1º turno para 22,75% no 2º turno.
Nesse cenário (que foi o considerado pelo Poder360), 2,8 milhões que foram às urnas no 1º turno deixariam de votar na 2ª etapa. Com isso, Lula perderia 2 milhões de votos. Ocorre que Bolsonaro também perderia 564 mil votos. Como consequência, os 6,2 milhões de votos a mais que o petista teve no 1º turno seriam reduzidos em 1,4 milhão de votos. Ainda faltariam 4,8 milhões de votos para o atual presidente encostar no petista.
Os dados acima mostram que, para ganhar a eleição, o presidente precisará ter um resultado muito favorável em 3 fronts:
Difundiu-se no 1º turno que quanto maior a abstenção, pior seria para Lula no Nordeste. Era verdade. Algumas pesquisas que davam na véspera da eleição 50% ou 51% para Lula talvez não captassem esse tipo de efeito. Por essa razão, a tese voltou com força nos últimos dias.
“Se houver muita abstenção, Lula perde votos e Bolsonaro vai empatar com o petista ou até ultrapassá-lo”, diz o raciocínio corrente entre apoiadores do atual presidente da República. Isso não é verdade. Bolsonaro deve ser beneficiado em alguma medida com menos pessoas votando (sobretudo se isso ocorrer no Nordeste), mas não será o aumento da abstenção, mesmo que muito significativo, que garantirá a vitória a ele.
A simulação acima mostra que, se houver a abstenção de sempre no dia 30 de outubro, a distância entre os candidatos, num cenário extremamente favorável a Bolsonaro, cairia de 6,2 milhões para 4,8 milhões de votos.
Ou seja, não basta ter mais abstenção, Bolsonaro precisa virar votos.
No 1º turno, o QG bolsonarista tentou obter decisão que limitaria o transporte de eleitores e inflaria a abstenção em segmentos que tendem a votar mais em Lula.
É incerto o quanto a dificuldade de deslocamento poderá aumentar a abstenção entre eleitores de Lula. Nesta semana, o TSE permitiu que as cidades ofereçam transporte gratuito no dia da votação.
O Poder360 também calculou, com as mesmas premissas, o quanto a abstenção precisaria subir para que levasse Bolsonaro a empatar com Lula. Seria necessária uma inédita alta de 8 pontos percentuais.
Nesse cenário ainda mais improvável, 12,5 milhões que votaram no 1º turno teriam de faltar em 30 de outubro.
É um cenário irreal. O maior aumento de abstenção já registrado foi em 2010, com 3,4 pontos percentuais a mais no 2º turno.
Outro raciocínio difundido depois de 2 de outubro é o de que o petista teria vencido na 1ª etapa caso a abstenção, em vez de aumentar, tivesse passado por uma queda em 2018. Se essa queda fosse concentrada no Nordeste, continua o raciocínio, a eleição de Lula já estaria certa.
Para verificar o que seria necessário à vitória de Lula no 1º turno, o Poder360 simulou um cenário extremo: o que teria acontecido se a abstenção no Nordeste tivesse sido zero.
A conclusão é que, ainda assim, Lula não conseguiria os votos necessários para fechar a fatura. Nesse cenário em que todos os nordestinos votassem, o petista atingiria 49,99% dos votos válidos. Ficaria a 14.000 votos de levar no 1º turno, mas não levaria.
Assim como a projeção anterior, essa simulação assumiu que 70% dos nordestinos que faltaram no dia do 1º turno votariam em Lula.
Dados históricos do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) mostram que a abstenção no 2º turno das eleições tende a ser sempre maior que no 1º.
Na 1ª etapa do pleito, 20,95% dos eleitores habilitados para votar não compareceram.
Em 2018, a abstenção foi levemente menor do que a registrada neste ano: 20,3%. Naquela época, a eleição presidencial também foi ao 2º turno –e a taxa dos que não votaram subiu a 21,2%.
Como mostrou o Poder360, eleitores com escolaridade mais baixa, normalmente mais pobres, são historicamente os que mais se ausentam na votação.
Em 30 de outubro, com deputados, senadores e muitos governadores já eleitos, 72,8 milhões de brasileiros precisarão voltar às urnas só para escolher o novo presidente. Isso ocorre porque em 15 Estados a definição do novo chefe do Executivo local já foi tomada logo em 2 de outubro.
No 1º turno das eleições de 2022, realizado em 2 de outubro, 14,6 milhões de pessoas no Sudeste deixaram de votar. Esse número equivale a 22% dos eleitores aptos na região mais populosa do país.
A média nacional de abstenção em 2022 foi de 20,95% –superior à registrada 4 anos atrás (20,3%). Esse número cresce desde 2006.
As simulações de votos deste texto consideram que 70% do impacto da abstenção estará concentrado em Lula porque os mais pobres e menos escolarizados, que votam mais no petista, são mais presentes entre os que deixam de votar. Não está claro, porém, que o impacto será tão grande.
Os cenários testados mostram o que poderia acontecer no que o Poder360 considera um limite de até que ponto a alta de abstenção poderia retirar votos do petista.
Para calcular a alta de abstenção em cada unidade da Federação, o Poder360 calculou a média de aumento em cada local entre 2014 e 2018. Depois, aplicou a taxa de aumento à abstenção verificada em cada UF no 1º turno.
Como o padrão é que Estados sem disputa para governador tenham aumento de abstenção superior aos demais no 2º turno, houve também um acréscimo de 1 ponto percentual na taxa de abstenção final desses estados.
No caso do cenário irreal do que seria necessário para que a abstenção anulasse a vantagem de Lula, considerou-se as premissas acima e mais um aumento linear de 6,2 pontos percentuais à taxa do 1º turno. Esse aumento no não comparecimento foi projetado para todas as Unidades da Federação no 2º turno. Esse cenário, no plano nacional, provocaria uma abstenção de 28,95%, 8 pontos percentuais acima do verificado no 1º turno.
Os dados usados para os cálculos de cada um dos cenários podem ser consultados nas tabelas abaixo:
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