Streaming aposta nos esportes para "matar" de vez a TV paga – NaTelinha

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Publicado em 09/01/2023 às 05:30
“O streaming nunca vai superar a TV paga, afinal nós temos esportes ao vivo”. A frase foi dita em 2016 por um executivo de uma grande operadora do setor, em um almoço realizado durante um evento de automobilismo. Passados seis anos, a previsão não poderia ser ainda mais furada: a televisão por assinatura está minguando em todo o mundo – e vê as plataformas de streaming aumentando cada vez mais o apetite pelos direitos esportivos.
Apesar de muito caras, essas transmissões podem ser um caminho para fidelizar o público para o novo formato de vídeo sob demanda – e, por isso, uma forma para tentar superar os adversários na chamada “guerra do streaming”. Empresas como Amazon, Apple, Disney e Warner Bros. Discovery já avançaram bastante nessa busca, envolvendo das ligas menores às maiores.
No Brasil, o Prime Video exibiu parte da Copa do Brasil em 2022, além de trazer partidas da NBA. Nos EUA, a plataforma garantiu os direitos dos jogos de quinta-feira da NFL, o famoso Thursday Night Football. E esse seria apenas o primeiro passo: de acordo com The Information, a Amazon estaria desenvolvendo um aplicativo separado para reunir as transmissões esportivas em um só lugar, dando mais destaque a esse conteúdo.
Pelos lados do Apple TV+ chegaram as partidas de sexta-feira da Major League Baseball. Em 2023 o serviço da companhia fundada por Steve Jobs terá a Major League Soccer, que é o campeonato nacional de futebol dos Estados Unidos. O acordo inclui o Brasil.
O Star+, da Disney, tem os ao vivos da ESPN como o seu maior argumento para se assinar ao serviço. Por fim, a HBO Max, da Warner Bros. Discovery, investe no futebol desde o seu começo – incluindo torneios como a UEFA Champions League e o Campeonato Paulista.

Mais um golpe nesse sentido ocorreu nos EUA, em 22 de dezembro. Depois de circular no mercado em busca da melhor oferta, a National Football Association (NFL) bateu o martelo e vendeu o chamado “Sunday Ticket” (com os jogos do domingo à tarde) para a YouTube TV, serviço de streaming por assinatura do Google. As partidas também poderão ser adquiridos “à la carte” no Primetime Channels da plataforma. Pelos direitos, a empresa vai desembolsar US$ 14 bilhões durante sete anos.
A jogada foi um duplo baque na antiga TV paga. É que, além de ver o streaming mais forte, esses eram jogos que antes pertenciam à operadora DirecTV – o que obrigava os espectadores a assinarem um caro pacote para aí sim poderem adicionar o NFL Sunday Ticket. Vai ficar mais barato para o consumidor final e aumentam as chances dele finalmente cancelar a assinatura – ou “cortar o cabo”, pegando emprestado a expressão em inglês.
Vale lembrar que, nos EUA, as partidas da NFL também estão disponíveis nos streamings Paramount+, Tubi, Peacock e ESPN+, sem exclusividade – além dos já citados acordos de partidas exclusivas no YouTube e Prime Video. Agora é possível assistir a praticamente todo o campeonato pela internet, com exceção do Super Bowl, que é a grande final e segue exclusiva da televisão aberta.
No Brasil, o futebol americano pode ser acompanhado no canal pago ESPN e na plataforma Star+.
Streaming aposta nos esportes para "matar" de vez a TV paga
A Copa do Mundo do Catar, encerrada com o heróico tricampeonato da Argentina, pode ter apresentado o “gostinho” do que virá a seguir – e como acompanharemos o mundial de Estados Unidos, México e Canadá, em 2026.
Nesta última Copa a grande revolução ocorreu por meio do twitcher e youtuber Casimiro Miguel. Com o seu olhar descontraído, Cazé, como é conhecido, transmitiu 22 partidas da competição – incluindo todas as da nossa Seleção e a final. Para os parâmetros do YouTube, a iniciativa bateu recorde atrás de recorde no país. A maior marca é de Brasil x Croácia, das quartas-de-final, no qual a live alcançou nada menos que 6,9 milhões de espectadores simultâneos e 32 milhões de público total.
Os números ainda não chegam perto do alcance da TV Globo, mas revelam que parte cada vez maior do público está disposta a abandonar a transmissão tradicional e embarcar no mundo do streaming para acompanhar o seu esporte favorito. Não à toa, o grupo dos Marinho também trouxe um sinal exclusivo na internet, liderado por Tiago Leifert no Globoplay e no ge.com.
A Globo já garantiu a Copa do Mundo de 2026, mas abriu mão da exclusividade em todas as mídias, inclusive na televisão aberta. Fica a oportunidade para que outros grupos (internacionais ou nacionais) viabilizem um modelo de negócio para concorrer com o grupo carioca. Quem sabe, mais criadores de conteúdo e influenciadores da internet poderão contar com o seu próprio sinal do torneio.
Fazendo um exercício de futurologia, seria como escolher entre Cazé, Luccas Neto e Gaules para assistir aos jogos do Brasil na Copa de 26.
Muita coisa mudou desde 2018 e será interessante ver como estaremos daqui a três anos e meio.
Falando especificamente do Brasil, o futebol movimenta os fanáticos e muda o pêndulo do comportamento do espectador – e muita coisa pode acontecer nesse sentido.
Atualmente, após o fim do bloco que fazia as negociações em conjunto e de recentes mudanças na legislação, os times da Série A do campeonato nacional vendem diretamente a transmissão das partidas que possuem o mando de jogo. Isso rendeu, por exemplo, o mesmo Cazé exibindo na internet os confrontos do Athético-PR na Arena da Baixada durante o campeonato de 2022.
Outros times podem seguir esse caminho no futuro próximo, principalmente após 2024 – que é quando a maior parte dos acordos atuais irá acabar.
Mesmo o Grupo Globo já vende o Premiere (com o pay-per-view do futebol) no Globoplay e no Prime Video, enquanto o SporTV pode ser assinado no pacote Globoplay +canais ao vivo. Já iniciativas como a já citada com Tiago Leifert no ge.com devem se tornar ainda mais comuns no futuro.
Streaming aposta nos esportes para "matar" de vez a TV paga
Seja por essa oferta do streaming, seja por economia, os brasileiros seguem o resto do mundo e continuam cancelando a assinatura da televisão paga. De acordo com o último balanço da Anatel, de outubro, o Brasil acumulava 12,6 milhões de “conexões” do tipo, perdendo usuários mês a mês.
No auge do setor, em 2014, o nosso país acumulava cerca de 20 milhões de assinantes de TV paga.
Ainda assim, o número atual não é de se jogar fora, mas fica difícil justificar grandes investimentos publicitários na mídia em um momento complicado para a economia como o atual. Pior: grupos como Disney e Paramount seguem voltando cada vez mais as suas atenções ao streaming, relegando aos canais por assinatura eternas reprises e conteúdo de pior qualidade.
Isso sem contar a mudança de comportamento do público, menos propício a assistir à TV linear, que obriga o espectador a ligar o aparelho ou a mudar de canal em determinado dia e horário.
O que mantém boa parte desses 12 milhões de assinantes atuais é mesmo as transmissões ao vivo, incluindo notícias e, principalmente, esportes. Ver esse conteúdo mudar para o streaming pode ser a pá de cal definitiva na velha TV a cabo. Será apenas questão de tempo.
No final de tudo, aquilo que era para ser a tábua de salvação se transformará no tiro de misericórdia.
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