Vídeo que Bolsonaro postou e apagou é espalhado por seus apoiadores – Metrópoles

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12/01/2023 2:00, atualizado 11/01/2023 23:57
Uma regra conhecida por quem navega na internet é que, uma vez que qualquer conteúdo é postado, ganha vida própria, pois, por mais que o autor apague, o print é eterno. Essa regra vale ainda mais para personalidades com milhões de seguidores nas redes, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que postou no Facebook esta semana (após os atentados em Brasília) um vídeo questionando a eleição do presidente Lula (PT) e apagou menos de duas horas depois – mas isso não está impedindo a mensagem de seguir sendo propagada por seus militantes.
O conteúdo em questão é um trecho de uma entrevista de um procurador do Mato Grosso do Sul chamado Felipe Marcelo Gimenez, que é defensor do voto impresso e disse a uma rádio de seu estado, em 10 de novembro do ano passado, que Lula não foi eleito pelo voto, mas “pelo sistema eleitoral” e que, por isso, as Forças Armadas deveriam “intervir no sistema político para reestabelecer a ordem”.
O vídeo de Gimenez questionando sem provas o sistema eleitoral chegou a circular por redes como TikTok e Twitter no fim do ano passado, mas estava caindo no esquecimento até a noite de terça (10/1), quando o perfil de Bolsonaro no Facebook, seguido por 15 milhões de internautas, repostou o conteúdo.
A repercussão nas redes foi imediata e negativa, afinal, dois dias antes milhares de bolsonaristas radicais invadiram e depredaram as sedes dos três Poderes em Brasília justamente por não aceitarem o resultado das eleições e questionarem – sem nenhuma prova – as urnas eletrônicas. O perfil de Bolsonaro, então, apagou a postagem sem fazer nenhuma retratação ou comentário – mas apoiadores dele continuaram engajando a desinformação sobre o sistema eleitoral brasileiro.
Em pesquisa em redes como Twitter, Kwai e Facebook, a reportagem achou o mesmo vídeo sendo divulgado por perfis de apoiadores de Bolsonaro. Já a usuária do Facebook que postou originalmente o vídeo divulgado no perfil de Bolsonaro começou a ser engajada por outros internautas bolsonaristas (e também por opositores), que estão comentando na postagem e também compartilhando em seus próprios perfis.
Veja exemplos da circulação pelas redes, na quarta (11/1), do vídeo que Bolsonaro postou e apagou na terça:
Internauta compartilha o vídeo com informações falsas alegando – também falsamente – que foi o próprio Facebook que o apagou da página de BolsonaroReprodução/Facebook
Vídeo que Bolsonaro postou e apagou no Facebook na terça passou a ser compartilhado por aliados dele na quarta, inclusive em outras redes, como o TwitterReprodução/Twitter
Bolsonaro apagou, mas perfil onde ele pegou o conteúdo originalmente continua com a postagem on-line e outros usuários do site estão compartilhando o materialReprodução/Facebook
Bolsonaro apagou, mas perfil onde ele pegou o conteúdo originalmente continua com a postagem on-line e outros usuários do site estão compartilhando o materialReprodução/Facebook
Moderação do Facebook marca postagens com aviso sobre o voto eletrônico ser seguro e auditávelReprodução/Facebook
Engajamento na página da internauta que postou originalmente o vídeo que Bolsonaro publicou e apagouReprodução/Facebook
Engajamento na página da internauta que postou originalmente o vídeo que Bolsonaro publicou e apagouReprodução/Facebook
Outra postagem do material no TwitterReprodução/Twitter
Outra postagem do material no TwitterReprodução/Twitter
Vídeo começou a circular no final do ano passado, mas estava caindo no esquecimento. Agora, voltou a fazer sucessoReprodução/Facebook
A publicação do conteúdo questionando as urnas por Bolsonaro está sendo usado como argumento pelo PSol em um pedido ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que os perfis do ex-presidente em todas as redes sociais sejam suspensos. O pedido foi feito nesta quarta, adicionado a uma ação na qual o partido já havia pedido a prisão preventiva de Bolsonaro.
De acordo com o pedido do PSol, “Bolsonaro, com apoio de seus aliados, é o grande arquiteto dos atos golpistas ocorridos em nosso país, posto que ao longo de todo o
seu mandato, com intensificação durante o pleito eleitoral de 2022 e a sua sabida derrota, criou infundada suspeita sobre o processo eleitoral”.
O texto protocolado no STF registra que Bolsonaro apagou o vídeo, mas avalia que “houve tempo suficiente para manter sua base terrorista mobilizada e engajada”.
Na conclusão, a petição do PSol argumenta ser “evidente que Jair Bolsonaro vem utilizando suas redes sociais de maneira a coordenar sua base terrorista, motivo pelo qual pugnam os requerentes, afim de evitar a incitação de novos atos como os ocorridos em 08/01/2023, a imediata suspensão de todos os seus perfis, sendo o investigado proibido de se continuar seu processo de incitação ao crime”.
A repercussão da postagem de Bolsonaro também está causando consequências ao procurador Felipe Marcelo Gimenez, de Mato Grosso do Sul, que é a pessoa colocando em dúvida, no vídeo, a vitória eleitoral de Lula.
A Corregedoria da Procuradoria-Geral do Estado (PGE) anunciou ontem que vai investigar a conduta do servidor.
“A Procuradoria-Geral do Estado de Mato Grosso do Sul, instituição essencial ao bom funcionamento do Estado Democrático, reafirma sua confiança no processo eleitoral e o respeito às autoridades estaduais e nacionais responsáveis pela sua realização, não representando a posição desse órgão eventuais manifestações individuais de integrantes de seus quadros”, diz nota divulgada pelo órgão.
O procurador Felipe Marcelo Gimenez não se manifestou sobre a investigação.
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