Vocacionados para a política (Por Hubert Alquéres) – Metrópoles

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Blog com notícias, comentários, charges e enquetes sobre o que acontece na política brasileira. Por Ricardo Noblat e equipe
28/12/2022 12:00, atualizado 28/12/2022 0:59
Em janeiro de 1919 Max Weber, um dos três autores fundamentais da sociologia, ao lado de Émile Durkheim e Karl Marx, proferiu para estudantes da Universidade de Munique a conferência intitulada “A política como vocação”. Um ano depois seu texto foi publicado, tornando-se um marco do pensamento sociológico moderno. Weber classificou os políticos em dois tipos: os que viviam da política e os que viviam para a política.
Segundo a teoria weberiana, os primeiros são os políticos profissionais, que fazem da política um meio para obter vantagens pessoais. Pecuniárias ou de poder. Já os outros são movidos por ideais e pelo compromisso com a coisa pública. Estes fazem política por vocação, como exercício de um sacerdócio.
A classificação weberiana pode ser aplicada à realidade brasileira, na qual também encontramos os dois tipos de políticos.
A captura da política pelo patrimonialismo é uma herança dos nossos tempos coloniais e escravista. As relações promiscuas entre o público e o privado sempre estimularam o surgimento dos chamados profissionais da política, levando à banalização do “rouba, mas faz” e do “é dando que se recebe”. Os que vivem da política são os principais agentes do esgarçamento da imagem das instituições democráticas e republicanas.
Nem todos os gatos são pardos, nem todos os políticos são farinha do mesmo saco. A história brasileira é cheia de exemplo de homens públicos que viveram para a política, exercendo-a como um sacerdócio. Não precisamos recorrer aos tempos imemoriais. Basta olhar para um passado mais recente, quando existiu no Brasil uma geração que dignificou a política e prestou relevantes serviços ao país. Dessa safra saíram Ulysses Guimarães, Mário Covas, Teotônio Vilela, Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Franco Montoro, Tancredo Neves, Fernando Henrique Cardoso e tantos outros.
Agora mesmo temos dois senadores em fim de mandato, José Serra e Tasso Jereissati, que deixam enorme legado para as gerações futuras. São exemplos de coerência, de zelo com a coisa pública, de compromisso com a democracia e com a justiça social.
Serra foi, desde sua juventude, testemunha e agente da história. Como presidente da UNE viveu os tensos momentos de 1964, amargou o exílio. Com sólida formação intelectual, foi quase tudo na política: senador, deputado, prefeito, governador de São Paulo, melhor ministro da Saúde de todos os tempos, quando lançou os genéricos ou criou o programa de combate a AIDS, premiado pela ONU como um exemplo. Gestor de primeira linha, minucioso até nos detalhes, destacou-se por sua enorme capacidade de tirar do papel projetos importantes e de aglutinar inteligências. Nunca foi dado a bravatas, assim como nunca titubeou em adotar atitudes corajosas quando elas se fizeram necessárias, como foi o caso da quebra da patente de remédios fundamentais tratamentos de saúde.
Quando o empresário Tasso Jereissati entrou na política, em 1986, o Ceará vivia os tempos do coronelismo, com sua política sendo dominada pelos coronéis Virgílio Távora, Cesar Cals e Adauto Bezerra. Os indicadores sociais do Estado eram uns dos piores do país, bem como altíssima concentração de renda. Em seu primeiro mandato, Tasso realiza um “governo de mudanças”, pondo fim à era do coronelismo e do clientelismo, implantando um projeto de moralização, austeridade e transparência na gestão pública. Governador por três mandatos, foi presidente do PSDB, desempenhando protagonismo para a consolidação da candidatura de Fernando Henrique a presidente.
Serra e Tasso são duas lideranças remanescentes de um PSDB que fez história e mudou a face do Brasil ao promover a estabilidade da moeda por meio do Plano Real. O fim da inflação, uma conquista dos tucanos, representou a maior transferência de renda em favor dos assalariados de nossa história. A modernização do estado, com o saneamento de suas finanças possibilitou avanços estruturantes em áreas sociais como a saúde e a educação.
Há um traço em comum na trajetória política dos dois senadores: a obsessão com o equilíbrio das contas públicas e com a responsabilidade fiscal, sem os quais programas sociais não são sustentáveis. Isso ficou muito claro na recente aprovação da PEC da Transição, quando Serra e Tasso apresentaram propostas, cujo espírito foi incorporado ao texto final, como a exigência de o novo governo ter um prazo para apresentar sua proposta de âncora fiscal, em substituição ao Teto dos Gastos.
Em seu artigo “A política como vocação”, Max Weber destaca três características essenciais para o líder político ideal: a paixão, o sentimento de responsabilidade e de percepção. Em outras palavras, deve ser dotado de caráter e responsabilidade para lidar “com os poderes diabólicos”, a pressão e tensão que o líder político pode enfrentar.
Tais virtudes estão presentes na trajetória de linha reta de José Serra e Tasso Jereissati, que sempre fizeram política com paixão e por vocação.
 
Hubert Alquéres é Secretário Estadual de Educação em São Paulo e membro da Academia Paulista de Educação
“O que chamamos de realeza é um estado de alma. E Pelé leva sobre os demais jogadores uma vantagem considerável: a de se sentir rei, da cabeça aos pés. Quando ele apanha a bola e dribla um adversário, é como quem enxota, escorraça um plebeu ignaro e piolhento”. (Nelson Rodrigues)
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