Bolsonaro é estilo piorado da comunicação usada por ex-presidente militar – UOL Economia

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Autor de 31 livros que venderam mais de 1 milhão de exemplares, dá dicas de expressão verbal para turbinar sua carreira.
Colunista do UOL
08/11/2022 04h00
Diplomacia é fazer e dizer as coisas mais imundas da maneira mais gentil.
Isaac Goldberg
Bolsonaro nunca teve muito filtro com a sua comunicação. Talvez até tenha perdido a eleição por causa da forma como se expressa. Dia sim, outro também, o presidente fazia pronunciamentos dos quais precisava se arrepender.

Durante um bom tempo o chefe do Executivo teve ao seu lado alguém que amenizava seus discursos irrefletidos, o general Otávio do Rêgo Barros. Esse porta-voz competente, comunicativo, experiente e muito bem preparado atendia a todos os jornalistas de maneira admirável.
Não era raro ter de ir para os microfones e explicar que determinada frase proferida pelo presidente havia sido tirada de contexto, ou que o tom utilizado em seu discurso fora mal interpretado. Quase sempre conseguia blindar Bolsonaro das críticas mais contundentes.
Por mais que as perguntas fossem agressivas, ele jamais se alterava. Reformulava e suavizava a questão levantada sem que os profissionais da imprensa se sentissem agredidos ou contrariados. Era respeitado por todos.
Com a sua saída, Bolsonaro teve de se virar sozinho. E muito mal. À vontade, naquele cercadinho, onde recebia grupos de apoiadores e jornalistas, vez ou outra metia os pés pelas mãos. Seus seguidores vibravam com tudo o que dizia, sem se darem conta de que assim ele fornecia armas para a oposição.
Perto do ex-presidente João Baptista Figueiredo, que governou o país de 1979 a 1985, todavia, Bolsonaro poderia ser considerado um aprendiz na comunicação inconsequente. Esse general não tinha papas na língua. Falava o que lhe vinha à cabeça.
Há, entretanto, uma diferença entre os dois que precisa ser considerada. Enquanto Bolsonaro só pensava em sua reeleição, Figueiredo não tinha a mínima vontade de permanecer no cargo. Queria cumprir o seu mandato e desaparecer da cena política. Ele mesmo confessou:
Não vejo a hora de ser um João comum. E, quando aumentarem o preço da gasolina, eu vou poder xingar o Tancredo, como fizeram comigo até agora.
Nunca se preocupou com os comentários que pudessem fazer dos seus pronunciamentos. Era tão desbocado que várias de suas frases ficaram para sempre no anedotário brasileiro. Algumas das pérolas mais famosas atribuídas a ele são:
Prefiro cheiro de cavalos ao cheiro do povo.
Não passo a faixa nem recebo Sarney em palácio.
Cavalo e mulher, só depois de montar ou casar.
Quem for contra a abertura, eu prendo e arrebento.
E para não dizer que nunca se arrependeu do que disse, há uma exceção que até serve para confirmar a regra. Uma criança de dez anos de idade lhe perguntou o que faria se o seu pai ganhasse um salário mínimo. Sem pensar muito, respondeu: Eu dava um tiro no coco.
Depois de refletir um pouco mais, talvez por se dar conta de que quem fazia o questionamento era apenas um jovenzinho, se arrependeu corrigindo as próprias palavras: Eu trabalharia para ajudar meu pai.
Figueiredo cumpriu sua promessa. Deixou a presidência e desapareceu dos holofotes. Homem honesto, viveu de sua aposentadoria sem grandes luxos. Podem fazer todas as críticas que quiserem a ele, mas jamais poderão questionar sua autenticidade.
Sem contar, ainda, que, por um ou outro motivo, foi ele o responsável pela abertura democrática no Brasil. Dizem alguns que agiu assim até contrariado, mas foi o último presidente militar e quem deu os primeiros passos para as eleições diretas no país.
Foi sucedido por Tancredo Neves, que veio a falecer antes de assumir o posto. Seu vice, José Sarney, ocupou o cargo de presidente. Como a emenda das eleições diretas não foi aprovada naquela oportunidade, Tancredo se elegeu por eleições indiretas.
Bolsonaro está em outra época e com ambições distintas das do general que o antecedeu. Jamais poderia ter prescindido da ajuda de seu porta-voz. Faltou nos últimos anos de seu governo a presença de um Rêgo Barros. De alguém que traduzisse seus discursos para uma linguagem mais adequada à liturgia do cargo.
Se pretender permanecer na política, e não deixa dúvidas de que essa é a sua pretensão, já se lançando como candidato às eleições de 2026, precisará se amparar em alguém que tenha essa vocação de uma comunicação mais diplomática. Se não for o próprio general Rêgo Barros, que seja alguém que se aproxime de seu perfil.
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